Não sabemos o que quer dizer "ser". Porém, quando perguntamos "que é ser?", nos mantemos em certa compreensão do "é", sem que possamos fixar em conceitos o que o "é" significa". Martin Heidegger
IntroduçãoTalvez seja relativamente difícil mapear de modo preciso o primeiro momento em que o Brasil foi colocado no plural. Quando autores como Eduardo Prado, Joaquim Nabuco, Oliveira Lima, Sílvio Romero, Euclides da Cunha, entre outros, escreveram o grosso de seus trabalhos, era comum estabelecer uma série de dicotomias acerca do Brasil -litoral/sertão, Norte/Sul, branco/negro, bárbaro/civilizado, para indicar somente as mais conhecidas. Eduardo Prado (1860Prado ( -1901 não foi indiferente à produção de um Brasil ancorado na dicotomia.O objetivo desse artigo é investigar o pensamento de Eduardo Prado acerca de algumas das questões nacionais de fins do século, especialmente sua reflexão sobre a República implantada no Brasil em 1889 e sua relação com a definição de uma ontologia nacional. Como se sabe, Eduardo Prado foi membro de uma rica família de cafeicultores de São Paulo e um dos principais intelectuais de fins do século XIX. Formou-se em Direito na Faculdade de São Paulo e trabalhou como jornalista e historiador. Prado ainda foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Manteve sua vida dividida entre a fazenda do Brejão, no interior de São Paulo, e Paris, onde desenvolveu grande amizade com o escritor português Eça de Queiroz. Prado não produziu uma obra muito extensa, em razão da morte, por febre amarela, que interrompeu a sua curta carreira intelectual, aos 41 anos de idade. Em termos políticos, o escritor foi um dos principais articuladores do Partido Monarquista em São Paulo, posição política da qual ele jamais se desfez. Como grande parte dos pensadores de fins do século no Brasil, Eduardo Prado foi um polemista notável, sobretudo depois da queda do regime monárquico, em 1889, quando sua posição enquanto um intérprete da nação se definiu de modo mais preciso.1 Que sua obra mais conhecida, A ilusão americana, tenha sido censurada no Brasil logo após sua publicação em 1893, é um fato conhecido na historiografia brasileira.2 A virulência dos ataques à República, o estilo polemista, típico de uma época de polemistas irados e de bacharéis em luta, 3 a aproximação do Brasil em relação aos Estados Unidos, a instabilidade de um regime político recém implantado, tudo isso, indubitavelmente, contribuiu para a censura imediata da obra.Em que pese a preocupação imediata de Eduardo Prado com as questões políticas do Brasil, ele desenvolveu uma interpretação da nação em seu pensamento, não somente em A ilusão americana, como também na totalidade de suas obras. Neste sentido, ao delimitar o Brasil republicano e o Brasil monárquico, Prado estava mais demarcando modos de civilização do que definindo regimes políticos, ou se quisermos jogar com a definição antitética, circunscrevendo tipos de civilização e de barbárie. No primeiro caso, um tipo d...