Resumo: Defenderei o argumento de que, desde a última década do século XX, se está assistindo a uma reafirmação de um Estado forte, compensatório e regulatório, diretivo em relação à evolução social. Nesse sentido, passa para o primeiro plano a política -tanto em termos de afirmação das instituições políticas quanto no que se refere à participação cidadã -como o elemento fundamental para a realização de transformações em todos os âmbitos da sociedade. Contratendências conservadoras na política, redivivas diante da atual crise socioeconômica, defensoras de políticas de austeridade como forma de resolver-se tal crise, e depois de um longo tempo de influência das posições neoliberais, podemos perceber a consolidação de uma cultura democrática ou de uma mentalidade coletiva afirmadora desse Estado diretivo em relação à evolução social, realizador de políticas de integração social e regulador no que tange à dinâmica econômica. É uma realidade muito importante para nossas democracias, pois leva ao reforço de uma cultura pública defensora de direitos sociais, à afirmação de uma política que, contraposta ao laissez-faire, assume o papel de centro diretivo da sociedade, de espaço de reivindicações por justiça e de exercício efetivo da cidadania, por parte de um número sempre crescente de indivíduos, grupos culturais e movimentos sociais os mais diversos. Trata-se, por isso, de uma perspectiva muito otimista no que diz respeito ao reforço da democracia política, que coloca o Estado como instituição básica para a constituição de uma sociedade democrática contemporânea.Palavras-chave: política, Estado, sociedade, economia, contemporaneidade.O ocaso do conservadorismo político Q uero partir do argumento de que estamos assistindo, desde meados da década de 1990, a um enfraquecimento vertiginoso do conservadorismo político-econômico representado pelo modelo neoliberal, situação sociopolítica que contrasta com o período que, iniciado em meados da década de 1970 e chegando até praticamente o fim dos anos 1990, teria sido marcado, em decorrência da hegemonia neoliberal, pelo ataque ao Estado de bem-estar e pela abertura praticamente inconteste das sociedades ocidentais à globalização econô-mica, dando a tônica dos discursos e das reformas neoliberais implementadas neste período (Katz, 1989;Duggan, 2003;Habermas, 2003; Zurn & Leibfried, 2007). Em certo sentido, portanto, o tempo do neoliberalismo esgotou-se ou, pelo menos, este mesmo neoliberalismo perdeu sua capacidade (supondo que a teve em algum momento) de responder aos desafios de governabilidade e integração -de conciliação entre capital e trabalho, entre democracia e capitalismo -nas sociedades contemporâneas e em termos de globalização econômico-cultural, o que significa que