O objetivo do trabalho é contribuir para o debate sobre as causas da experiência brasileira de evolução institucional e desenvolvimento econômico durante a “Era Desenvolvimentista”. O argumento é o de que a geopolítica regional e o poder militar, fatores ignorados nas análises convencionais, tiveram um impacto significativo sobre a estruturação das instituições estatais (State-making) e políticas de desenvolvimento brasileiras em um momento chave do desenvolvimentismo, o Plano de Metas. Para demonstrar essa hipótese, será reconstituída uma tradição de pensamento e ação militar enraizada na geopolítica da Bacia do Prata que ligava defesa nacional com a modernização econômica e centralização política. A evolução dessa tradição estratégica conformou, a partir dos anos 1930 e 1940, um sistema de planejamento que articulava doutrinas e hipóteses de guerra com requerimentos militares e projetos na área econômica. Como demonstração do funcionamento e impacto desse sistema, e, portanto, da variável geopolítica sobre o desenvolvimentismo brasileiro, será mapeada a sua atuação em projetos do Plano de Metas nos setores petroquímico, nuclear, de construção naval e transportes terrestres, além de iniciativas para obtenção de financiamento externo. Conclui-se que além dos fatores apontados pela literatura convencional a geopolítica regional deve ser incluída como uma das causas do desenvolvimentismo brasileiro.