O artigo busca sistematizar algumas contribuições de teóricos contemporâneos (Schumpeter, Riker, McGann, Przeworski, Cox, McCubbins, Powell, Crisp, Arato e Lijphart, entre outros)
I. INTRODUÇÃOEste artigo, dividido em duas partes, busca sistematizar algumas contribuições de teóricos contemporâneos (Schumpeter, Riker, McGann, Przeworski, Cox, McCubbins, Powell, Crisp, Arato, Lijphart, dentre outros) a respeito dos limites da agregação de preferências (primeira parte) e sobre os pressupostos institucionais mais propícios para o desenvolvimento da "accountability" (segunda parte). A partir desta análise, tentaremos demonstrar o vínculo existente entre teóricos minimalistas da democracia e os pressupostos normativos nos quais se baseiam, em especial a valorização da dimensão da accountability.A primeira parte aborda, a partir de Schumpeter e da literatura pós-schumpeteriana, os limites teó-ricos da concepção de "interesse coletivo" e do "bem comum". Schumpeter critica a concepção clássica de democracia, que acredita na existên-cia de um bem comum e de uma vontade geral. Para ele, a democracia é um procedimento competitivo por meio do qual as elites políticas adquirem ou não a aprovação dos eleitores para suas propostas. Arrow, Riker e McGann comprovam a afirmação de Schumpeter da inexistência de "uma vontade geral" por evidenciarem, teórica e empiricamente, dilemas da agregação de preferên-cias individuais. A pergunta que fica, dessa parte, e para a qual tentaremos esboçar algumas possibilidades de resposta é: sendo a agregação de preferências individuais improvável, por que seria desejável, afinal, a regra da maioria?O debate sobre a impossibilidade de agregação de preferências individuais, dentre outros fatores, ajuda a mudar o foco da literatura sobre a representação política. Esta passa a preocupar-se mais com a dimensão da accountability e do controle 1 do representante do que com a busca do "bem 1 A preocupação com o alcance do bem comum esteve muito vinculada, na literatura sobre a representação políti-ca, com o debate sobre mandato livre e vinculado. O foco teria mudado para a preocupação com a accountability. Segundo Miguel (2005, p. 28) o conceito de accountability "apresenta um modelo mais sofisticado e atraente das relações entre representantes e representados do que as visões antitéticas do 'mandato livre' e 'mandato imperativo'".