Descentrando os Estados Unidos nos estudos sobre negritude no Brasil

Abstract

A noção de que a experiência negra dos Estados Unidos seria mais "moderna" que a brasileira encontra respaldo nas formulações teóricas de cientistas sociais brasileiros e norte-americanos. Discute-se até mesmo a idéia de que os afro-americanos dos Estados Unidos deveriam intercambiar sua negritude (blackness) -representada por uma identidade racial politizada e moderna -pela africanidade (africanness ou africanity) dos negros brasileiros, ou seja, sua suposta capacidade de retenção da cultura "original africana" (Walker, 2002). Se Walker (Idem) defende explicitamente a troca de blackness por africanness e Christmas (1992) se deslumbra com o rico "cardápio" de tradições africanas "preservadas" pelos negros no Brasil, há autores afro-americanos que, ao contrário, não só não se entusiasmam com o que vêem como "excesso" de culturalismo na negritude brasileira como ainda recomendam o aprendizado nos moldes da negritude estadunidense moderna (Hanchard, 1994;Gilliam, 1992).Essas argumentações variadas possuem em comum as dicotomias tradição versus modernidade, cultura versus política, atraso versus avanço, além de uma (implícita) noção evolucionista de negritude. A abundância de recursos materiais e intelectuais da academia estadunidense explica, em grande parte, a presença e o predomínio das suas idéias nos meios acadêmicos latino-americanos. Contudo, é necessá-

Shifting Racial Subjectivities and Ideologies in Brazil

“…For example, a 1976 national survey found that less than 1 percent of Brazilians self-identified as negro in an open-format question; in contrast, fully one-third self-identified as moreno (Oliveira et al 1985). Nonetheless, negro has a long history of use in Brazil by negro social movements that define negro as the sum of the two census categories pardo and preto (Domingues 2005; Pinho 2005). From this perspective, pardo and preto are color terms, whereas negro is a term of racial affirmation constructed similarly to the black category in the United States (Freyre 1971; Nascimento and Nascimento 2001).…”

“…Negro is the preferred term of Brazilian negro movements (Telles 2004), and it is more recently embraced by many state actors (Pereira 2016). Juxtaposed to branco (white) by movement and state actors to form a binary scheme, the negro term by definition excises racial intermediacy; from this lens, Brazil becomes a majority negro country (Pinho 2005). In sum, the non-census terms moreno and negro represent salient racial subjectivities and ideologies in Brazil.…”

Como se fosse Bumerangue Frente Negra Brasileira no circuito transatlântico

“…Apontou algumas pistas acerca das reverberações da diáspora deste país naquele, assunto ainda pouco explorado pelos pesquisadores. O foco apenas no lado norte--americano minimiza (ou oblitera) importantes aspectos históricos do lado brasileiro (Pinho, 2005), como, por exemplo, as formas de luta e resistência dos afro-descendentes no pós-abolição, e o papel que estes desempenharam na rede de comunicação transatlântica, contribuindo, assim, para a elaboração e reelaboração dos referentes político-culturais contemporâneos. notas 1 "Intellect is the only road to freedom, says editor R. S. Abbott".…”