Segundo Paulo Henriques Britto, os falantes do português brasileiro e do inglês sempre tiveram posturas totalmente diferentes em relação à oralidade:Por que é tão maior a distância entre o registro escrito e o falado no português do Brasil do que no inglês? Creio que o fenômeno se deva às maneiras opostas como os falantes do inglês e os do português encaram (ou, ao menos até recentemente, encaravam) seus respectivos idiomas. De modo geral, para os anglófonos, a língua pertence a seus falantes; a função dos dicionários é registrar as palavras que vão surgindo (…). Do mesmo modo, as gramáticas inglesas se dedicam mais a registrar do que a julgar. É claro que há uma norma culta, só que ela é vista como algo que se aplica apenas aos usos mais formais da língua: ao ensaio, à tese acadêmica, ao compêndio erudito, mas não à fala dos personagens dos romances e dos filmes. (…) [P]ara a maioria dos falantes do inglês, o idioma é um organismo vivo, e sua exuberância, sua profusão de dialetos e registros, é prova de vitalidade. A atitude tradicional dos brasileiros em relação à língua portuguesa é muito diferente, embora (…) ela tenha mudado nas últimas décadas, por obra dos escritores e jornalistas progressistas e de linguistas militantes, como Marcos Bagno. Mas até meados dos anos 1960 (…) a visão dominante era mais ou menos esta: a língua portuguesa, a última flor do Lácio, (…) tinha de ser cuidadosamente protegida de seus usuários. Ela não pertencia a nós, brasileiros comuns; pertencia aos portugueses, ou talvez aos grandes escritores portugueses e brasileiros mortos há no mínimo meio século, ou aos gramáticos e lexicógrafos e professores de português, aos quais cabia a tarefa de preservá-la em seu estado de pureza original. (Britto, 2012, p. 83-84) 1 Agradecemos ao CNPq pelo auxílio financeiro que possibilitou a escrita deste artigo. Agradecemos também as críticas e sugestões da professora Marcia Martins. * Débora Landsberg é mestre em Estudos da Linguagem, na linha de pesquisa Linguagem, Sentido e Tradução, pela PUC-Rio. Paulo Henriques Britto é Professor Associado do Departamento de Letras da