Resumo
Resumo Resumo Resumo Resumo: Neste trabalho analiso diversos materiais produzidos por grupos de familiares de presos e desaparecidos políticos, e outras organizações de resistência aos regimes militares dos países do Cone Sul, buscando mostrar como as emoções e o gênero se entrelaçam em uma retórica que apela para os sentimentos da opinião pública com objetivos políticos. As organizações e associações, em muitos de seus materiais, agenciavam o gênero de forma a atingir o público em seus sentimentos, construindo uma retórica que se aproxima e encampa a questão dos direitos humanos, de forma a combater, por um lado, a tortura e o extermínio de militantes políticos e, de outro, ajudar a desacreditar e enfraquecer os regimes militares, tendo auxiliado na sua queda ao longo dos anos 1980 em todo o ConeHá alguns anos, venho pesquisando os usos do gênero no contexto da resistência às ditaduras do Cone Sul, primeiro através dos discursos que envolveram as diversas experiências de guerrilha nos países que compõem essa região, entre os anos 1968 e 1979, 1 depois buscando uma visão mais ampla acerca da resistência e analisando também os movimentos de direitos humanos e de familiares de desaparecidos que, com suas denúncias, ajudaram a derrubar essas ditaduras nos anos 1980.2 Minha proposta neste artigo é fazer um ensaio de história comparativa e cruzada sobre os movimentos de resistência às ditaduras no Cone Sul, focalizando o uso político da emoção, aliado ao gênero, na construção da retórica dessa resistência, desses movimentos que ajudaram a construir uma nova conjuntura política e social para a região. 3 Este artigo é resultado do projeto "Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul", que vem sendo construído coletivamente no Laboratório de Estudos de Gênero e História 2 WOLFF, 2013. 3 No momento, o título do projeto apoiado pelo CNPq é "Un pedazo de mi alma: gênero e sentimentos na retórica da resistência às ditaduras militares no Cone Sul". Gostaria de agradecer especialmente às estudantes Lídia Schneider Bristot, Tamy Amorim da Silva, Priscilla Nathany Pessoa de Lima, Mariane da Silva, Daniele Santos Dornelles e Fernando Damazio dos Santos pela colaboração no levantamento de dados do projeto. 1 Cristina Scheibe WOLFF, 2007. http: //dx.doi.org/10.1590/0104-026X2015v23n3p975 976 Estudos Feministas, Florianópolis, 23(3): 975-989, setembro-dezembro/2015 CRISTINA SCHEIBE WOLF (LEGH) da Universidade Federal de Santa Catarina, com a colaboração das professoras Joana Maria Pedro e Janine Gomes da Silva, além de um grande grupo de estudantes de doutorado, mestrado, graduação e colegas que estão realizando seus pós-doutorados. Esse grande projeto articula as pesquisas individuais, propiciando um ambiente colaborativo que envolve: um acervo de entrevistas, bibliografia e documentos digitalizados utilizados em comum; reuniões semanais de pesquisa e discussão teórico-metodológica; viagens de pesquisa realizadas em pequenos grupos que conseguem explorar melhor os arquivos, os contatos e as bibliotecas; e publica...