Vocês sabem, o sonho não acabou", escreveu Flavio Koutzii a seus amigos em 1979, em ocasião de sua rápida passagem por São Paulo com destino à França, logo depois de conquistar a liberdade da prisão argentina, onde sobreviveu por quase cinco anos. A frase poderia ser fortuita se não trouxesse uma densa carga simbólica: a militância política iniciada em Porto Alegre (RS), nos anos 1960; o exílio em 1970, provocado pelo acirramento da ditadura civil--militar brasileira; e os anos de perseguição, tortura e prisão na Argentina, impingindo no sujeito sequelas físicas, morais e psicológicas. Tais situações, ao que parece, não demoveram de Koutzii a utopia revolucionária, construída e inspirada nos princípios do socialismo trotskista.Um indicativo de que o sonho não acabara, não obstante as controvérsias vividas na clandestinidade e o sofrimento passado nos porões da ditaduraporque seu retorno ao Brasil, em 1984, depois de um período na França, implicou na construção de uma trajetória política intensa (ele se torna vereador, deputado estadual por quatro mandatos e Chefe da Casa Civil do Governo no Rio Grande do Sul; sempre pelo Partido dos Trabalhadores, o qual também ajudou a conceber ainda no final da década anterior). Se o envolvimento político-partidário se estende até 2007, sua militância na defesa de pautas públicas é uma constante. Afinal, desde os anos 1960 até a atualidade, tornou-se conhecido não apenas pelo engajamento social, mas pela publicação e organização de livros, cadernos e materiais de divulgação, entrevistas e colunas assinadas para diversos periódicos nacionais, quando, em geral, dissertava sobre