Nos últimos vinte anos, observamos transformações substanciais tanto no lugar que é atribuído aos povos, às culturas e às tradições de origem africana na formação da sociedade brasileira quanto na maneira como a identidade nacional é abordada nos debates e discussões que se dedicam à investigação das relações raciais na contemporaneidade. Essas transformações trilham um caminho que reflete um novo olhar sobre a presença desses povos e culturas, muitas vezes informados e influenciados por um conceito que tem ganhado destaque nas discussões tanto no mundo acadêmico quanto no da militância: a diáspora africana. Porém, raramente é explicitado o modelo ou a perspectiva de diáspora africana que está sendo articulada nessas investigações e nesses discursos. Fora do Brasil, a noção de "diáspora", e, mais especificamente, de "diáspora africana", não é recente. Desde o fim do século XIX esteve presente nos Estados Unidos, tendo importante papel como locus de pertencimento, contribuindo para a construção de solidariedades e de agendas políticas dos movimentos sociais negros norte-americanos. Além disso, a noção de "diáspora africana" foi essencial para a construção, institucionalização e postulação dos paradigmas teórico-metodológicos para o que hoje (recentemente) são disciplinarmente denominados de African-American Studies. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo elaborar uma breve genealogia da noção de "diáspora africana". Por meio do mapeamento do modo como os intelectuais afro-americanos trabalharam com categorias como "raça", "cultura", "filiação" e "pertencimento" no final do século XIX, apresentamos as condições de emergência do conceito.