Contato: conceicao.pires@uol.com.brResumo: Neste artigo discutem-se as transformações no humor gráfico contemporâneo a partir da segunda metade do século XX, com ênfase nos recursos subjetivos e ideológicos acionados na atualidade para garantir sua expansão e consolidação em diferentes plataformas midiáticas. A partir de uma abordagem hermenêutica assinala-se o atual recurso a uma racionalidade cínica fomentadora de um caráter derrisório que despreza a alteridade como elemento fulcral para a sociedade contemporânea. Finalmente, propõe-se uma reflexão sobre o caráter ideológico presente no humor derrisório gestado a partir dessa associação com a razão cínica, e defendemos a premissa de que essa combinação incide de forma contundente na reiteração e legitimação de práticas de poder excludentes. Palavras-chave: razão cínica; poder; humor.Abstract: In this article we discuss the transformations in contemporary graphic humor from the second half of the twentieth century, with emphasis on the subjective and ideological resources triggered contemporaneously to ensure its expansion and consolidation in different media platforms. Through a hermeneutic approach it marks the current resource to a cynical rationality fomenting of a derisive character who despises alterity as a key element for the contemporary society. Finally, it proposes a reflection on the ideological character in the this derisive Humor gestated from this association with the cynical reason and defends the premise that this combination incisively focuses on reiterating and legitimating practices of exclusionary power. Keywords: cynical reason; power; humor.O espaço conquistado pela produção humorística no teatro, televisão e cinema brasileiros se transformou consideravelmente a partir dos anos 1960. O avanço do humor impresso para os veículos audiovisuais teve inicialmente como obstáculo maior a usual ideia de que este constitui uma arte menor. Gradativamente, a indústria cultural compreende a potencialidade do humor para reforçar redes de solidariedade a sublimar "a agressão, administrar o cinismo e, em alguns casos, estilizar a violência, dissolvendo-a no riso" (ENTREVISTA, 2012), e este é incorporado aos