A proposta dos editores foi de uma reflexão sobre o estado da arte da perspectiva crítica no Brasil. Consideramos que é muito importante explorar a riquíssima tradição crítica no pensamento social brasileiro, 1 bem como as possíveis aprendizagens e inspirações que nele podemos encontrar para potencializar a prática da crítica em nosso espaço disciplinar. Após uma retomada do que entendemos por práxis crítica, trazemos para o diálogo, com a brevidade que o espaço exige, alguns cidadãos brasileiros, críticos, ativistas e, portanto, intelectuais: Caio Prado Júnior, Ruy Mauro Marini e Darcy Ribeiro.2 O que os une, apesar de tantas diferenças, é uma capacidade enorme de se comprometer com os problemas e as lutas de seu tempo, de teorizar para a ação e, também, de agir.
KARL MARXPara esclarecer o entendimento de práxis que adotamos, é preciso distingui-la de atividade. Atividade (ou ação) se refere ao ato ou conjunto de atos através do qual um sujeito ativo modifica uma matéria prima dada. Essa é uma qualificação por demais inespecífica, o ponto de abarcar atividades instintivas ou biológicas e, mesmo, atos que não sejam especificamente humanos. Para Vásquez (2007, p.219), "a atividade propriamente humana apenas se verifica quando os atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real." Há, portanto, a interferência da consciência; ou seja, o real almejado existe anteriormente como produto ideal da consciência, como antecipação do desejado. Mais que isso: como no processo de realização o ideal antecipado na consciência sofre modificações, para falar de atividade humana "é preciso que se formule nela um resultado ideal, um fim a cumprir, como ponto de partida, e uma intenção de adequação, independentemente de como se plasme, definitivamente, o modelo ideal originário" (VÁSQUEZ, 2007, p.221).