deliciam-me estas obras em que a teoria, porque é como o ar que respiramos, encontra-se em toda parte e em nenhuma [...] na própria estrutura do discurso intepretativo " (Pierre Bourdieu, 1996) olfang Amadeus Mozart apostou alto nos ouvidos vienenses em 1782. E errou. É conhecida a historieta. O imperador José II censura-o, pela ópera O rapto do serralho, com a naturalidade de quem pertence ao grupo para o qual é prerrogativa de sua natureza o bom gosto em roupas, mobília, música: "Notas demais, meu caro Mozart, notas demais". O músico talvez o tenha retrucado com a inocência dos que pertencem ao grupo daqueles que só entendem mesmo do que fazem: "quais o senhor tiraria?". Não havia resposta. Os ouvidos sentiam apenas que uma exigência estranha havia sido feita e associavam o esforço de acompanhamento à quantidade de notas. Suponho que qualquer leitor dotado de discernimento e familiarizado com a análise de Norbert Elias hesita em decretar, seja excesso, seja escassez no trabalho de seus pares, atemorizado ante a possibilidade de que o tempo o revele na posição do imperador e não na de Mozart (Elias, 1995).Mutatis mutandis, um jovem que depare com a "Introdução" que abre Nova História em perspectiva, elaborada por Fernando Antônio Novais e Rogério Forastieri da Silva, sofrerá de algo similar. Ciente de que resenhar é adjudicar, ainda que a cordialidade obrigue escondê-lo, ele se vê diante de duas possíveis atitudes, igualmente frustrantes. Nada dizer a respeito, e se frustrar, posto o esforço que a compreensão das formulações exige; ou dizer algo que denuncie o estado ainda iniciático de seu percurso, risco à espreita. Imperativo então que o pobre aprendiz imagine um caminho que o auxilie e viabilize apresentar algumas conexões de sentido implícitas na referida "Introdução". Começo, então, apresentando-o. Em seguida, passo a um resumo sumário dos argumentos nodais da referida "Introdução", e, apresento questões suscitadas pela leitura dela.O texto em questão abre uma antologia de artigos produzidos pela "escola" que ficou conhecida como "Nova História", dominante no ofício historiográfico desde o último quartel do século passado. A antologia divide-se em três seções: "propostas", "desdobramentos", "debates", distribuídas em dois volumes. Aguarda-se o segundo volume, com plano já apresentado pelos autores, que compreenderá a seção "debates". A presente reflexão concentra-se na "Introdução", tentando levar às últimas consequências uma advertência dos "Um livro escondido?" LidiaNe S. ROdRigueS i W estudos avançados 28 (80), 2014 276