Homenagem a Clara Mafra

Abstract

Não é fácil para mim verbalizar meus sentimentos. É difícil expressar o fortíssimo sentimento de amizade, a até de cumplicidade, que me une com a Clara desde que a conheci há dez anos atrás, e o prazer oceânico dessa conexão Atlântica que tivemos ao longo de todos esses anos e graças ao qual aprendi tanto sobre o Brasil, sobre Portugal, sobre religião, e até sobre a cachaça. Foram muitas visitas a Lisboa, ao Rio, longas conversas pelo skype, muitos jantares e até um excelente cabrito português na Lapa do Rio de Janeiro (bom, cabrito para nós: salada para a Claudia, claro).Eu sabia que a situação era critica, de facto confesso agora que quando partilhei o diagnóstico (por pedido explícito da Clara) com minha irmã (médica em Barcelona), ela ficou totalmente horrorizada. Mas se eu acredito em alguma coisa, como todos sabem, é na esperança, e não ia deixar de acreditar nisso com a Clara! Ainda acredito, e na esperança, digo-lhes que nunca deixaremos que a nossa Clara nos abandone. Ela nunca nos abandonaria, e nós também não devemos deixar que o nosso espírito a abandone. Comeremos cabrito (e salada) e o sorriso da Clara estará lá conosco, na mesa como sempre esteve. Ela estará sempre entre nós, sempre.A Clara foi uma grande amiga e seu empenho foi importantíssimo para muitas das minhas iniciativas de pesquisa e editoriais (ela era membro do corpo editorial de Religion and Society: Advances in Research e editamos juntos um número sobre Marcel Mauss e a prece em Religião e Sociedade 1 ). Clara sempre teve um grande orgulho da sua ligação com o ICS onde trabalhou com os membros mais sêniores ainda antes de eu ter ido para lá em dezembro de 2002. Àquela altura, o seu livro Na Posse da Palavra 2 era uma das únicas referências sobre antropologia da religião urbana em Portugal e devorei-o imediatamente. A conheci pouco depois, em 2003, quando a convidei a uma mesa que organizei sobre migração e pluralismo religioso num congresso AfroLuso-Brasileiro. Foi a primeira de uma longa lista de colaborações nos dois lados do Atlântico. Depois mandou-nos alguns bons alunos, como a Claudia Swatowiski, que co-orientamos os dois e que passou (10 anos depois da Clara) um ano entre nós em Lisboa, animando o nosso vibrante grupo de estudantes de doutoramento e fazendo um catch up da situação da Igreja do Reino de Deus em Portugal inicialmente estudada pela Clara quando passou o seu ano sandwich uma década antes. A Clara e a Claudia estavam agora precisamente reorientado uma parte de seus interesses antropológicos para a África, e temos vários projetos com elas em andamento sobre a IURD em Angola em particular, e espero que através da Claudia possamos manter o vínculo