RESUMO:Ao contrário daqueles que afirmam que Platão teria se baseado numa antiga fonte para desenvolver sua narrativa sobre Gyges (República,, este trabalho se propõe examinar a hipótese de que esta é, de fato, uma ficção baseada na narrativa de Heródoto (Histórias,. Assim, pretende-se investigar o método utilizado por Platão para dar base ao seu argumento filosófico, analisando os pontos da narrativa platônica que divergem da de Heródoto e se esses pontos justificam tomarmos tal narrativa como uma ficção platônica, mais propriamente, um mito criado por Platão com uma função filosófica.
PALAVRAS-CHAVE:Platão. Heródoto. Gyges (Giges). Mito platônico.No Livro II da República de Platão, Gláucon irá contar-nos a história sobre Gyges e seu anel 2 . Tal história faz parte do seu desafio a Sócrates, em que este deve provar que a justiça é de qualquer maneira melhor do que a injustiça para aqueles que a praticam. Em sua narrativa, um grande terremoto abre uma fenda no chão, onde o pastor lídio Gyges cuidava de seu rebanho. Descendo por esta, encontra, entre outras maravilhas [θαυμαστά], um cavalo de bronze e, dentro deste, um cadáver que possuía unicamente um anel de ouro na mão. Ao subir, descobre que o anel concede a capacidade [δύναμις] de tornar seu possuidor visível e invisível a sua vontade. Possuindo tal poder, e com a ajuda da Rainha, mata o Soberano da Lídia e assume o poder. Gláucon irá utilizar essa história para ilustrar que os homens só são justos pela força da lei, mas, se puderem agir por sua própria vontade, irão agir com injustiça.