resumo Partindo da controvérsia Henrich-Habermas dos anos 1980, este artigo discute a possibilidade de conservar um espaço aberto para a metafísica, na filosofia atual, tendo em vista o modo como Kant reformulou esse campo do saber. Procurando levar a sério a intenção kantiana, eu me baseio nas reflexões do próprio Dieter Henrich e de Christian Thies para apresentar, em linhas muito gerais, um possível formato para essa nova forma de metafísica.palavras-chave metafísica; modernidade; Kant; necessidade da razão; pensamentos de completude; coisa em si
I. IntroduçãoCom a publicação de Fluchtlinien, 3 em 1982, Dieter Henrich chamou a atenção para uma questão que andava sumida da pauta filosófica desde os anos 60: a possibilidade de desenvolver um pensamento metafísico na atualidade. Rapidamente, surgiram diversas reações da parte dos que consideram a "velha rainha" mais do que superada. Entre elas a de Jürgen Habermas, que, em 1984, publicou uma resenha criticando duramente a pretensão henrichiana de um "retorno à metafísica": segundo ele, Henrich estaria ignorando uma série de desenvolvimentos históricos recentes, responsáveis por tornar sem sentido qualquer reflexão de aspirações metafísicas -desenvolvimentos como o "desencantamento do mundo", a "virada linguística" e a "superação do logocentrismo"