PERFIL DA QUÍMICA NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XXDurante toda a época do Império e nas primeiras décadas do século XX, a Química figurou como uma atividade suplementar aos poucos laboratórios analíticos existentes ou como disciplina básica dos cursos de Medicina, Engenharia e, mais tarde, Farmá-cia. A tradição seguida nesses cursos baseou-se na orientação francesa, limitada a algumas poucas escolas profissionalizantes, que tinham como incumbência a formação dos elementos indispensá-veis ao funcionamento da sociedade 1,2 . Assim, a evolução do ensino desta ciência ocorreu principalmente nas Escolas de Medicina, sendo ministrada por professores de formação médica, nos primeiros anos do curso e nas Escolas de Engenharia, com intuito de formar mão-de-obra com conhecimentos técnicos que pudessem ser aplicados de forma mais eficiente na exploração das riquezas naturais do Brasil, como mineração e metalurgia 3 . Ainda no século XIX são criados no Rio de Janeiro, na Escola Politécnica, no período de 1874 a 1896, os "cursos científicos", dentre os quais o curso de Engenharia Industrial (artes e manufatura), cuja cadeira de Química Industrial foi de responsabilidade de dois cientistas estrangeiros, Charles E. T. Guinet (1829-?) e posteriormente Wilhelm Michler (1846-1889) 2 . A instalação da indústria química no Brasil inicia-se no final do século XIX. Foram instaladas fábricas de sabão, de pólvora, de vidros, de papel e de velas. A indústria químico-farmacêutica também era uma realidade, surgindo os primeiros projetos e mesmo as primeiras fábricas de ácido sulfúrico, de ácido nítrico, de ácido clorídrico e de cloro. Mas ainda dependíamos da importação de técnicos, juntamente com equipamentos e processos, pela total falta de escolas que preparassem profissionais para este setor industrial 3,4 . Com a Primeira Guerra Mundial e suas conseqüências sociais e econômicas, o Brasil percebeu a importância da Química, principalmente no segmento industrial e a importância de seus profissionais especializados, para suprir as necessidades nacionais e garantir a defesa da nação. Contribuíram para o desenvolvimento dessa visão livros como o de Charles Moureu (1863-1929): "La Chimie et la Guerre: Science et Avenir" (1920) e inúmeros artigos ingleses e franceses, dentre eles os publicados no Moniteur Scientifique 5 . Nessa época, o Brasil começava a se industrializar e a atividade química, apesar de seu crescimento evidente, ainda era obra do "estrangeiro" ou ainda estava na mão daqueles que "praticavam" a mesma. Em muitas fábricas era a tradição que se transmitia do paiprático para o filho-aprendiz, e o acervo de conhecimento baseavase em um tipo de equipamento, uma matéria-prima e um esquema de aquecimento. Ao ocorrer variação em um desses pontos, era a confusão na fábrica e, talvez, sua ruína 6 . Em alguns casos, a fábri-ca estacionava largo tempo na fase de instalação, sem poder trabalhar a plena carga e desenvolver-se, porque a direção ficava experimentando pseudotécnicos ou curiosos inteligentes, um após o outro, em uma expectativ...