RESUMOEste estudo objetivou conhecer as vivências de prazer e sofrimento no trabalho do agente comunitário de saúde. Pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa e perspectiva teóricada Psicodinâmica do Trabalho, desenvolvida com 25 agentes comunitários de saúde de diferentes equipes de saúde da família, no período de agosto de 2015 a fevereiro de 2016, por meio de grupos focais e entrevistas semiestruturadas. As informações coletadas foram submetidas à categorização temática. Foram identificados os temas: relações de trabalho e as vivências de prazer-sofrimento e; sintomas de adoecimento físico e mental. As vivências de prazer estão amparadas nas possibilidades de reconhecimento e o sofrimento na desvalorização, bem como na substituição de atividades junto ao território por atividades administrativas na unidade. Dores físicas e desgaste emocional foram descritas pelos entrevistados, os quais se percebem desamparados frente à complexidade dos problemas que requerem atenção na comunidade. Com base na Psicodinâmica do Trabalho, conclui-se sobre a necessidade de espaços de escuta à demanda por valorização do trabalho do ACS, o que vai ao encontro do resgate aos pressupostos do próprio modelo de atenção e da ação interprofissional.
INTRODUÇÃOA Atenção Primária em Saúde (APS) apresenta diferentes origens e enfoques ao redor do mundo, desde aumentar o acesso aos cuidados em saúde, priorização de ações locais a diminuição de custos (1) . O Brasil compartilhar de tais enfoques, com priorização da assistência às populações mais empobrecidas. Neste sentido, aEstratégia Saúde da Família (ESF) é considerada uma das principais portas de entrada do sistema de saúde brasileiro, sendo prioritária na consolidação e expansão da APS. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) é um integrante desse cenário, representando o elo entre os serviços de saúde e a comunidade. Esse profissional tem seu agir baseado nos pressupostos da Vigilância em Saúde, favorecendo o enfrentamento de situações-problemas que afetam a vida das famílias num determinado território (2) .Nesta perspectiva, as mudanças apresentadas na Política Nacional de Atenção Básica no ano 2017 foram analisadas como retrocesso ao trabalho do ACS, especialmente pelo cenário de incerteza em relação a sua permanência na equipe de saúde e quantitativo deste trabalhador em relação a população adscrita (3) .Sabidamente a visita domiciliar é um dos principais instrumentos para a educação em saúde no agir do ACS, no entanto sua realização pode não ocorrer ou ocorrer de maneira insuficiente ao acompanhamento das famílias cadastradas, os motivos alegados são desde número elevado de usuários para acompanhamento, o número de horas insuficiente para tal atividade e uma inadequação do horário destinado às visitas domiciliares (4) . Estes aspectos denotam a organização, ou a sua falta, nos processos de trabalho que por sua vez influenciaram na satisfação do trabalhador, sendo geradores de estresse, ansiedade e depressão (5) , repercutindo nas vivências laborais dos ACS e entraves ao desenvolvi...