IntroduçãoO conhecimento nativo sobre a utilização de plantas medicinais tem sido bem documentado em várias partes do mundo (Begossi et al. 2002). Esta prática tradicional ainda é comum em vários povos, sendo mais evidente nos países em desenvolvimento, onde a maior parte da população pobre não tem acesso aos medicamentos industrializados (Ayyanar & Ignacimuthu 2005).O uso de recursos naturais por populações urbanas de origem rural é orientado por um conjunto de conhecimentos resultantes da relação com o ambiente natural na qual estavam inseridas bem como pelas relações sociais em que estão imersas no meio urbano. Muitos produtos vegetais e suas formas de usos que atualmente são indispensáveis à sociedade urbana têm sua origem nestas populações de origem rural, que aprenderam a domesticar e a manipular as propriedades curativas das plantas (Castelluci et al. 2000). Entretanto, as modernas condições de vida dessas populações comprometem a transmissão desse conhecimento para as futuras gerações, como observado em várias comunidades brasileiras e outros países da América do Sul (Ayyanar & Ignacimuthu 2005;Fonseca-Kruel & Peixoto 2004;Estomba et al. 2005).As plantas medicinais e seus usos terapêuticos são alvos de pesquisas etnobotânicas, que mostram também as circunstâncias sócio-culturais da população e preocupamse em resgatar e valorizar o conhecimento tradicional e a diversidade cultural dessas sociedades estudando a relação entre as plantas e as pessoas de uma maneira multidisciplinar (Benz et al. 2000;Heinrich 2000;Ladio & Lozada 2004). Por estes motivos, pesquisas nesta área foram uma das que mais se desenvolveram nos últimos anos para a descoberta de produtos naturais bioativos (Maciel et al. 2002).Neste trabalho, realizou-se um estudo a respeito do conhecimento e uso de plantas medicinais na comunidade urbana de Muribeca, entre dois grupos considerados conhecedores de plantas medicinais: moradores com treinamento fornecido por organizações governamentais sobre uso e manipulação de plantas medicinais e moradores sem treinamento formal, com conhecimento sobre plantas medicinais transmitido pela tradição oral. A pesquisa foi direcionada para responder à seguinte questão: a aquisição de um conhecimento formal, somado ao já adquirido tradicionalmente sobre uso e manipulação de plantas medicinais, modifi caria a importância das plantas popularmente utilizadas por uma população e/ou suas indicações terapêuticas? A partir deste levantamento etnobotânico as espécies que apresentaram uma maior Importância Relativa foram discutidas objetivando-se detectar alguma relação entre a indicação popular e a validação científi ca. (