“…Sabe-se que a própria circulação não tem um formato definido e pode ter fluxos diversificados, ainda que algumas pesquisas, como a de Serra (2003), apontem para certas tendências como a da circulação Sarti (1996), que afirma que a circulação está ancorada na "dificuldade concreta de criar os filhos" decorrente de uma situação de extrema pobreza, mas chamando atenção para o que refere como "opção preferencial pelos pobres" característica na Antropologia, a autora propõe uma ampliação da noção de circulação de modo que as crianças de camadas médias e altas também sejam incluídas nesse "ir e vir". Assim, de acordo com Motta-Maués (2004;2008) devem ser consideradas, além das experiências de duração mais longa, ou com certa estabilidade no tempo de permanência dos pequenos, ou aquelas regidas por um sistema de prestações e contraprestações de cunho moral (como, por exemplo, a obrigação de uma tia em criar um sobrinho pequeno após a morte de sua mãe), também os movimentos e os fluxos mais curtos, mais intermitentes, mais dinâmicos que incluem outros personagens e outros espaços sociais: como o vaivém de crianças entre a casa dos pais separados, entre a casa dos pais e das avós, as idas e vindas para as aulas de inglês, às aulas de reforço, às atividades esportivas e/ou culturais e inúmeras outras, tomando assim a circulação de modo mais amplo e flexível. Apesar de haverem ainda muitas questões sobre a circulação de crianças que não foram exploradas nos estudos sobre o tema, como assinala Motta-Maués (2004;2008), especialmente em relação às hierarquias e espaços sociais, não se pretende aqui esgotar o pouco que já foi produzido e sim apontar que esse fenômeno pode ser uma estratégia de problematização das naturalizações operadas em torno das idéias de infância e família, dando visibilidade aos regimes de verdade que as constituíram e aos efeitos produzidos por elas, especialmente na atuação de psicólogos e demais trabalhadores sociais.…”