Juventude, Gerações e Trabalho: ampliando o debate OLIVEIRA, S.R.; PICCININI, V.C.; BITTENCOURT, B.M. Juventudes, gerações e trabalho: é possível falar em geração Y no Brasil? Organização & Sociedade, v.19, n. 62, p.551-558, jul./set. 2012.
JUVENTUDE, GERAÇÕES E TRABALHO: AMPLIANDO O DEBATE
Ana Heloísa da Costa Lemos *A pesar do interesse em compreender a questão das gerações não ser uma novidade -o estudo de Manheim (1993Manheim ( [1928) pode ser apontando como um marco importante desse debate -, na última década, proliferaram estudos, predominantemente norte-americanos, buscando compreender as expectativas dos jovens contemporâneos, notadamente no que tange à sua inserção no mercado de trabalho. A literatura acadêmica no campo da Administração e, principalmente, a mídia de negócios têm produzido descrições da geração que mais recentemente ingressou no mercado de trabalho, os indivíduos nascidos entre 1980 e 2001, a denominada Geração Y (ALSOP, 2008). Em tais trabalhos, os integrantes dessa Geração são caracterizados como hedonistas, individualistas, ansiosos, capazes de lidar com tecnologia digital e com uma quantidade grande de informação. No campo profi ssional, são descritos como indivíduos que esperam ter o reconhecimento de seus pares e superiores, anseiam por rápida ascensão na carreira, além de desejarem ter autonomia e fl exibilidade no trabalho. Também são vistos como menos leais às organizações do que seus antecessores (TULGAN, 2009;EISNER, 2005;ALSOP, 2008;ERICKSON, 2008;LIPKIN;PERRYMORE, 2010;TAPSCOTT, 2010).No Brasil, na área de Administração, o interesse em melhor compreender a denominada Geração Y é mais recente. Estudos buscando retratar a referida geração começaram a surgir no início de década passada (COIMBRA, 2001) e a se avolumar nos últimos anos (VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2008;VASCONCELOS et al., 2010; VALE; LIMA; QUEIROZ, 2011; CAVAZOTTE, LEMOS; VIANA, 2012; LEMOS; COSTA; VIANA, 2012). Em sua maioria, esses trabalhos procuram entender as aspirações profi ssionais dos jovens ingressantes no mercado de trabalho e que, aparentemente, têm expectativas diferentes das gerações anteriores. Todavia, conforme ressaltam Oliveira, Piccinini e Bittencourt (2012), a caracterização dessa geração é passível de críticas por seu caráter às vezes generalizante, que retrata um grupo geracional como um bloco homogêneo, sem levar em conta diferenças sociais, econômicas, culturais, de gênero e etnia.Uma possível explicação para essa homogeneização pode ser encontrada na origem das produções que sobressaem no debate sobre a dita Geração Y, no campo da Administração: sensíveis à demanda do setor produtivo, cada vez mais preocupado em reter essa nova força de trabalho, os estudos fi ndam por focar um grupo especí-fi co desses jovens, constituído por indivíduos com formação superior ou em vias de obtê-la, oriundos das camadas médias, candidatos naturais às posições de gerência e quadros técnicos superiores das organizações. A atração e, principalmente, retenção de jovens formados em boas universidades têm sido mot...