IntroduçãoChina e Índia ocupam atualmente parcelas quase idênticas de interesse no noticiário internacional. Os chineses já despertavam atenções, desde o início do processo de abertura da República Popular ao exterior, na década de 1980. Os indianos, mais recentemente, passaram a provocar enorme curiosidade, pela ruptura gradual em curso com modelo de desenvolvimento tradicionalmente fechado, em descompasso com a globalização.Este artigo visa a uma reflexão sobre aspectos políticos de dois momentos definitivos na evolução política contemporânea daqueles dois países, verdadeiras novas cenas de partida na história recente do continente asiático: o início da década de 1980, quando a China iniciou seu processo de abertura para o exterior; e os dias de hoje, quando as atenções mundiais se voltam para o "fenômeno" do crescimento acelerado chinês e indiano.O exercício se deve ao fato de que a emergência atual das nações mais populosas do planeta é, com freqüência, analisada apenas na perspectiva da crescente inserção internacional de suas economias, bem como a partir da cobiça quanto ao acesso de centenas de milhões de seus potenciais consumidores à oferta de produtos e serviços estrangeiros. Tais avaliações estariam mais adequadas ao debate, nas últimas décadas do século XX, quando o processo de globalização começou a prevalecer sobre as economias fechadas e centralmente planificadas.Assim, o foco prioritário na dimensão econômica, até o final do século passado, levava a crer que o progresso tecnológico em comunicações promoveria maior cooperação e entendimento entre os povos. Com um maior acesso à informação, os eleitores se tornar-se-iam mais independentes e racionais. Na medida em que as sociedades se tornassem mais afluentes, acreditava-se, superariam paixões "tribais" ou nacionalismos extremados, enquanto instituições globalizadas se consolidariam, criando, mesmo, um novo ordenamento internacional. ARTIGO * Diplomata brasileiro, atualmente servindo como Cônsul-Geral do Brasil em Mumbai, Índia. As opiniões expressas no artigo são de sua exclusiva responsabilidade e não refletem posições do Ministério das Relações Exteriores (papinto2006@gmail.com).Rev. Bras. Polít. Int. 50 (1): 86-101 [2007]