I. INTRODUÇÃOApós o final da primeira década do século XXI, o debate sobre o declínio do poder americano é um dos mais recorrentes da literatura recente das relações internacionais. Esse debate persiste devido à significativa importância da posição internacional dos Estados Unidos nos séculos XX e XXI. Diversos temas abordados na atualidade dependem dessa posição: o encaminhamento de temas transnacionais, como os direitos humanos, o meio ambiente, as migrações internacionais, o terrorismo, entre outros. Uma das questões centrais da atual conjuntura depende do comportamento e dos interesses internacionais da superpotência restante: a discussão e o avanço de projetos de reforma dos principais regimes e instituições internacionais com o propósito de readequá-los à complexidade da política mundial contemporânea. Afinal, a contribuição americana foi decisiva para a consolidação e o desempenho dos papéis desses regimes e instituições. Uma eventual reconfiguração de poder dentro do Conselho de Segurança 2 , por exemplo, avançaria se houvesse a adesão dos Estados Unidos a qualquer uma das propostas que contemplam maior participação de potências regionais importantes como a Alemanha, a Índia e o Brasil.A importância dos Estados Unidos torna relevante a literatura que trata de sua política externa. No meio acadêmico, proliferam livros e artigos abordando essa política nos séculos XX e XXI. Dentro dessa produção incontável 3 , destaca-se a necessidade de entender o desenvolvimento do poder americano no século XX com o objetivo de situá-lo na política internacional do período posterior à Guerra Fria. Nesse sentido, as interpretações sobre o poder americano são variadas e re-1 Agradeço os comentários valiosos e as recomendações dos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Polí-tica, que contribuíram para a versão final deste ensaio bibliográfico. 2 No Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), cinco membros permanentes (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China) desfrutam de uma condição privilegiada e desigual em relação aos membros não permanentes, podendo fazer uso do poder de veto às decisões tomadas dentro do Conselho.