Agenciar raça, reinventar a nação: o Movimento Pelas Reparações no Brasil. O artigo tem o objetivo de fazer alguns apontamentos acerca do Movimento Pelas Reparações (mpr) dos afrodescendentes no Brasil, na década de 1990. Argumenta-se que esse movimento, além de expressar como os afro--brasileiros estavam (e estão) conectados às lutas e demandas travadas no circuito transatlântico da diáspora negra, preparou o terreno para a atual política de ações afirmativas no país. palavras-chave: diáspora africana; população afro-brasileira; reparações; ações afirmativas; movimentos sociais.Agitating race, reinventing the nation: the reparations movement in Brazil. The article makes some notes about the Movimento Pelas Reparações (mpr) of African descendants in Brazil in the 1990s. It is argued that besides expressing how Afro-Brazilians were (and are) connected in struggles and demands waged in the transatlantic circuit of the black diaspora, this movement prepared the way for the current policy of affirmative action in the country.
Agenciar raça, reinventar a nação: o Movimento Pelas Reparações no BrasilImagine if reparations were treated as start-up capital for black entrepreneurs who merely want to mirror the dominant society. What would really change? [Kelley, 2002, p. 133].19 de novembro de 1993, uma sexta-feira, não foi uma data qualquer no calendário do Brasil. Na véspera do dia nacional da consciência negra, 12 pessoas resolveram promover um protesto diferente para denunciar a situação de subalternidade da população afro-brasileira. Foram almoçar no Maksoud Plaza, um dos mais sumptuosos hotéis da cidade de São Paulo. Chegando ao restaurante do hotel, pediram pratos requintados (como camarão, lagosta, etc.), champanhe francês, conversaram, comeram e beberam descontraidamente. No final, pediram a conta e esta -como já esperavam -era de valor estratosférico (aproximadamente us$700). Então ocorreu algo inédito na história do país: as 12 pessoas disseram alto e em bom som ao gerente do estabelecimento que a conta deveria ser creditada na dívida secular que a sociedade brasileira tem com todos os afrodescendentes; logo, não seria paga. Depois de perceber que a coisa era séria e o grupo não pretendia saldar o seu débito, o maître Dorival Teixeira chamou a equipa de segurança do Maksoud e começou uma negociação polida entre os "clientes" e o hotel. A conversa foi tomando um tom mais agressivo até chegar ao contacto físico entre manifestantes e segurança, que tentava impedir a saída do grupo. Nesse momento, entre palavras de ordem ("os negros têm direitos") e cobranças dos seguranças, a confusão já estava formada no estacionamento do hotel. Foi chamada a Polícia Militar. Os manifestantes formaram um cordão para saírem juntos do hotel. Seguranças e policiais tentavam agarrá-los, para que não fugissem. O empurra-empurra arrastou-se até a Avenida Paulista, a um quarteirão de distância do hotel. Mais policiais foram acionados.