RESUMO -A abdução dos artelhos menores ("sinal do leque") concomitante à adoção da atitude sentada a partir do decúbito (movimento associado) ou em resposta à excitação plantar externa (resposta reflexa) foi formalmente descrita por Babinski em 1903 e contrastada com a dorsiflexão do hálux em termos dos seus respectivos valores de localização. No presente ensaio traduzimos as duas comunicações em que a abdução dos artelhos recebeu sua caracterização semiológica final e enfatizamos a distinção entre o fenômeno da abdução e a extensão reflexa dos artelhos, particularmente do grande. Aduzimos, ainda, evidências de que, na literatura anátomo-clínica e neurofisiológica dos anos subsequentes, o assim chamado "sinal de Babinski" e respostas coadjuvantes continuam gerando imprecisões conceituais, descrições inadequadas e investigações imperfeitas.PALAVRAS-CHAVE: sinal de Babinski, sinal do leque, reflexo, síndrome piramidal.
The abduction of the toes and the fan sign (Babinski, 1903)ABSTRACT -The abduction of the lesser toes which may be observed as an associated movement or as a reflex response to stroking of the lateral plantar surface of the foot (the fan sign) was formally described in 1903 by Babinski, who compared it to the dorsiflexion of the great toe in terms of their respective values as localizing signs. In the present essay we translated into Portuguese and review the two communications in which the characterization of the abduction of the toes was made, emphasizing the distinction between this phenomenon and the reflex dorsiflexion of the toes, particularly the great toe. Evidence is adduced from the clinical and physiological literature of the succeeding years that shows that the so-called "sign of Babinski" is still surrounded by mists of inadequate clinico-anatomic concepts whence the wealth of incrogruous pathophysiological interpretations which abound in the literature of the past decades.KEY WORDS: sign of Babinski, fan sign, reflex, pyramidal syndrome.A estimulação móvel, lenta e firme (ft.: chatouillement, ing.: stroking) do arco plantar de uma pessoa normal deitada, dá lugar a tênue flexão dos dedos, habitualmente associada à retirada da perna, que varia de um esboço de flexão ao afastamento de todo membro da fonte de estimulação ("reflexo da tríplice flexão" 19 ). Em determinados pacientes, a fração mais distai da resposta se modifica pela conversão da flexão do hálux em extensão, cuja amplitude aumenta conforme o estímulo desliza pelo arco plantar no sentido póstero-anterior. Com freqüência, os outros dedos também se estendem (dorsifletem), mas esse movimento conjunto, embora incluído na descrição original do "fenômeno dos artelhos", foi logo em seguida descartado a favor da extensão pura do hálux 21 . Não obstante, apesar da valorização da resposta do hálux como fundamental, os movimentos dos artelhos menores têm sido considerados parte integrante do "sinal de Babinski" por autores influentes, o que contribuiu