ARTHUR RAMOS E DURVAL MARCONDES: higiene mental, psicanálise e medicina aplicadas à educação nacional (1930-1950)

Abstract

No presente artigo procuraremos analisar criticamente a proposta das clínicas de higiene mental escolar criadas nas primeiras décadas do século XX por Durval Marcondes em São Paulo e Arthur Ramos no Rio de Janeiro. O objetivo das clínicas escolares era receber as crianças tidas como incapazes de aprender. O estudo das respectivas propostas de intervenção na escola por meio da higiene mental e da psicanálise nos permitiu identificar o conceito de infância, família e educação. A pesquisa desenvolvida utilizou como fonte a produção intelectual dos autores a partir de obras publicadas. O resgate do pensamento e da prática de Marcondes e Ramos é uma forma de retomar a memória intelectual daquele período histórico, especialmente, do campo do conhecimento da história e da educação.

Intersections between education and health reforms in Brazil: when the "target population" is an active builder of the public policy

“…Still, they focused their actions mainly on psychologically understanding the students to recommend educational actions for inclusion, rather than restructuring the educational system. These were the Service of School Mental Hygiene (Serviço de Higiene Mental Escolar), created in 1938 in São Paulo and directed by Durval Marcondes, and the Service of Ortofreny and Mental Hygiene (Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental), created in 1934 and ran by Artur Ramos in Rio de Janeiro (Garcia, 2014). Durval Marcondes's service offered child evaluation and parents' and teachers' orientation.…”

“…Arthur Ramos in Rio de Janeiro had more focus on children that were considered aggressive and recommended changes in the children's immediate environment, such as telling the parents not to beat their children. Ramos talked about the subjective consequences of racism and recommended teachers to incite kids to talk in school for their wellness, based on the psychoanalytic idea of talking cure (Garcia, 2014, Freitas 2009.…”

Caps IJ e escolas: a necessidade de encontros nas diferenças

“…Em 1930, Durval Marcondes orientava a criação das ainda incipientes classes de educação especial.26 Posteriormente, em 1938, foi criado o Serviço de Higiene Mental Escolar, também dirigido por ele(SAGAWA, 2002). Em paralelo, no Rio de Janeiro, Anísio Teixeira convida Arthur Ramos para dirigir o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental nesta cidade, em 1934, com o intuito de atender crianças agressivas e com dificuldade de comportamento(GARCIA, 2014).Em comum, estes dois serviços tinham ampla gama de frentes ofertadas às crianças das escolas públicas, familiares e profissionais, além de terem olhar composto por outras disciplinas além da psiquiatria. Além disso, suas ideias de prevenção estavam ligadas ao entendimento de que as crianças das escolas primárias tivessem garantidas as condições para o desenvolvimento de sua saúde mental, diferentemente das da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM).…”

“…Assim, viam na educação o caminho para a construção de uma sociedade democrática, de integração da população marginalizada. Alinhados ao escolanovismo, acreditavam na ciência como meio para tanto, prevendo possíveis desajustes e prevenindo-os, mas impondo novos códigos de conduta (GARCIA, 2014)…”

“….Arthur Ramos orientava professores a incitar as crianças a conversarem na escola, confiando na força da talking cure e da necessidade de desenvolvimento da socialização.Acreditava ser necessário que professores tivessem alguma exposição à psicanálise. Para ele, esta prática seria corretiva e ao mesmo tempo preventiva, uma vez que o professor conseguiria também identificar potenciais riscos e encaminhar a criança para atendimento(GARCIA, 2014).Todo um aparato histórico se fez na relação entre escola e saúde mental em que a primeira capta os sujeitos alvos da saúde mental -os desviantes -enquanto a saúde mental melhora as possibilidades de aprendizado destes sujeitos para a escola, derivando na construção do tipo psicológico normal de sujeito. O desvio deste tipo não é, no entanto, o sofrimento psíquico em si, mas pode vir a causá-lo(VOLTOLINI, 2016).…”