Existência e Diferença: O Racismo Contra os Povos Indígenas

Abstract

Resumo Este artigo discute um dos aspetos mais invisibilizados do racismo no Brasil: o caso do racismo contra os povos indígenas. Na primeira parte, discute-se o vazio na literatura sobre o racismo contra indígenas. Em seguida, são apresentados depoimentos e reflexões de caráter prático e teórico sobre racismo por parte de de autores indígenas. A pesquisa se baseia em dois encontros com intelectuais, artistas e lideranças indígenas para discutir o tema do racismo.

Para aprender e ensinar antropologias

“…Não por acaso, este movimento parece ganhar força justamente quando trabalhos antropológicos e de áreas afins, produzidos por pessoas que costumavam se ver excluídas destes espaços de produção de conhecimento, têm se avolumado e ganhado visibilidade no mundo acadêmico (Milanez et al, 2019;Archibald Q'um Q'um Xiiem et al, 2019;Mbembe, 2018;Santos, 2015;TallBear, 2015). Contudo, há poucos estudos e cursos sobre os impactos dessas transformações na docência e há um esforço ainda menor para a coletivização dessas transformações.…”

Neither Natives nor Nationals in Brazil: The ‘Indianisation’ of Bolivian Migrants in the City of São Paulo

“…Whereas urban indigenous peoples constantly struggle to reinstate their authenticity, Bolivian migrants in São Paulo – by definition urban as well as spatially, and often socially, mobile – were homogeneously racialised as indians. By highlighting how Bolivians' South–South migration makes them ‘more indian’, this article furthermore contributes to the debate around how indigeneity is also racialised and indigenous peoples are subjected to racism, both intimately and structurally (see also Warren, 2001; Milanês et al, 2019), as it highlights the coloniality that underlies the representation of an ‘urban indian’ as an oxymoron.…”

Atividade educativa para o desenvolvimento de competências culturais de enfermeiras(os) que atuam na saúde indígena na Amazônia paraense

“…Os indígenas antropólogos chamam de fossilização da cultura indígena e o consideram uma forma de racismo contra os povos indígenas, uma vez que coloca a cultura indígena como algo imutável, permanente e fixa, manifestada no estranhamento da aquisição de celular e de carros, do frequentar espaços como shoppings e universidades, pela urbanização, no uso de roupas ou em forma de comentários supostamente inocentes, mas profundamente racistas, como "você não parece índio" ou acusações como "não é mais índio" ou "ex-índio". (p.2175) (243) O racismo anti-indígena é conceituado por Ailton Krenak como "uma epidemia global causada pela recusa de compreender e aceitar a diferença" (p. 2172), e que é vivido pelos povos originários brasileiros desde a invasão dos europeus. Depois, com o projeto do Estado em manterem segregadas as reservas não autônomas, pela forma como os indígenas são tratados nas universidades e pela permanente invasão do Brasil pelo agronegócio e mineração que cerca os territórios de vida dos povos originários para perpetuar a relação de desigualdade (243).…”

“…(p.2175) (243) O racismo anti-indígena é conceituado por Ailton Krenak como "uma epidemia global causada pela recusa de compreender e aceitar a diferença" (p. 2172), e que é vivido pelos povos originários brasileiros desde a invasão dos europeus. Depois, com o projeto do Estado em manterem segregadas as reservas não autônomas, pela forma como os indígenas são tratados nas universidades e pela permanente invasão do Brasil pelo agronegócio e mineração que cerca os territórios de vida dos povos originários para perpetuar a relação de desigualdade (243).…”

“…Portanto, como educação de adultos deve ser organizada conforme as necessidades educativas, profissionais e culturais da sociedade, que se dá ao longo da vida, comum a todos nós e que alimenta o ciclo da mudança de comportamento (251). Porém, não é o que se vê e se viu durante o encontro de RTs, pois a pauta dialogada concorria com a informativa, travestida de atualização/capacitação técnica, e nas falas manifestam a dificuldade de comunicação com a DSEI, que se dá apenas para as questões operacionais que são as atividades burocrático-administrativas, epidemiológicas que são as atividades técnico-assistenciais e nenhuma atenta para as questões socioculturais.As situações-problemas foram apresentadas, escutadas, faladas, argumentadas e problematizadas conforme foram se desenvolvendo os círculos de cultura até que o significado social de algumas posturas diante do processo reflexivo se mantiveram a exemplo da fala de Trata-se de uma situação que demonstra claramente que a monocultura da naturalização das diferenças que hierarquiza e inferioriza(62) não teve sucesso e ainda o que mesmo diante do cotidiano do serviço de saúde e de uma formação universitária o indígena enfermeiro não sucumbe às operações institucionais minuciosas de controle, sujeição de suas forças e que lhes impõe uma relação de "docilidade-utilidade" (p. 133)(252).As manifestações de hostilidade ou as faces e formas de preconceito podem ser exteriorizadas também pela recusa em considerar os efeitos históricos de violência, genocídio 27 , etnocídio ou genocídio cultural28 , escravidão e discriminação que os povos indígenas enfrentaram, resistem e veem sendo impostos a eles, mas que ainda assim se reinventam, desde o processo de invasão dos portugueses, conforme diz Krenak(243). Logo, é preciso que enfermeiras(os) e profissionais de saúde considerem o impacto desses processos sobre os modos de vida e de luta dos indígenas para terem seus direitos reconhecidos e conquistados.Sem compreender esses processos, emerge a categoria entendida pelos participantes como agressividade indígena.Os diálogos são muito ricos e nos levam a várias linhas de compreensão, mas a principal delas é que a educação permanente é de fato um desafio ambicioso e necessário, como refere Ricardo Ceccim(253)(254).…”