A arqueologia do alto Madeira no contexto arqueológico da Amazônia

Abstract

Resumo Este artigo faz um balanço dos dados atualmente disponíveis para a arqueologia da área a jusante das cachoeiras do alto rio Madeira. Trata-se de um segmento-chave do maior afluente do rio Amazonas, que possui suas áreas de cabeceira nos Andes Centrais: ele é formado pela junção de grandes rios que vêm da Bolívia e do Peru – Mamoré, Beni e Madre de Díos. Nossa análise comparativa indica que a arqueologia da área a jusante das cachoeiras do rio Madeira possui mais semelhanças com padrões observados na Amazônia central do que com a região de seus formadores. Por outro lado, o alto Madeira também denota elementos da diversidade cultural que caracterizam o seu entorno. Sendo assim, propomos que as cachoeiras do Madeira funcionaram como uma área de fronteira persistente ao longo do Holoceno tardio, conectando regiões com padrões culturais distintos na bacia amazônica.

Petrografia de cerâmicas da fase Bacabal (sambaqui Monte Castelo): um dos mais antigos usos de cauixi na Amazônia

“…Em 2010, foram retomadas as pesquisas em diversos sítios registrados por Miller no trecho encachoeirado do rio Madeira (Almeida, 2013;Tizuka, 2013;A. Costa, 2016;Vassoler, 2016;Caldarelli & Kipnis, 2017;Watling et al, 2018;Kater, 2020;Mongeló, 2020;Neves et al, 2020;Pessoa et al, 2020;Zuse et al, 2020) e na bacia do médio rio Guaporé, um dos seus formadores (Betancourt, 2010;Zimpel Neto & Pugliese Junior, 2016;Pugliese Junior, 2018;Pugliese Junior et al, 2017). 2 Este artigo resulta do esforço coletivo de análise e discussão de cerâmicas arqueológicas promovido durante o curso de pós-graduação "Petrografia de materiais geológicos e arqueológicos", ministrado na Universidade de São Paulo (USP), em 2018.…”

Introdução: arqueologia dos ‘pioneiros’ e da diversidade do alto rio Madeira

“…Os estudos têm demonstrado que, durante a longa história de ocupação humana, as dinâmicas sociais do alto rio Madeira estiveram conectadas com o restante da Amazônia (Neves et al, 2020). Assim, a região pode nos ajudar a compreender fenômenos de extensa amplitude geográfica, como a expansão de grupos falantes de línguas Tupi e Aruaque, assim como a dispersão de alimentos domesticados.…”

LUGARES PERSISTENTES, PRÁTICAS FUNERÁRIAS E TECNOLOGIA CERAMISTA EM CAÇADORES-COLETORES PRÉ-HISTÓRICOS SUL-AMERICANOS: Uma Proposta de Interpretação para o Sítio Arqueológico Pedra do Alexandre, Carnaúba dos Dantas, RN, Brasil

“…A proposição de uma linha de pesquisa nestes moldes, não é inédita na arqueologia brasileira. Em desenvolvimento na região amazônica, desse o início do século XXI (NEVES, 1999(NEVES, , 2000, esta abordagem metodológica tem demonstrado sequências de ocupação, mesmo com a ocorrência de migrações e mudanças espaciais, que atravessam continuamente, todo o Holoceno (NEVES et al, 2020). Apesar de hiatos cronológicos durante o Holoceno Médio -também observados na cronoestratigrafia do Pedra do Alexandre (MUTZENBERG, 2007) -é possível verificar:…”

“…Considerando a diversidade étnica, linguística e o grande número de horizontes culturais definidos na região amazônica, não parece absurda, a adaptação desta metodologia, para as pesquisas arqueológicas no Seridó. Apesar de não lidar com populações originárias contemporâneas, que poderiam atestar, através da tradição oral relações de ancestralidade com vestígios arqueológicos (NEVES, 1999(NEVES, , 2000NEVES et al, 2020), os dados etnohistóricos do Seridó potiguar descrevem uma situação etnográfica mais simples, com o registro de apenas uma língua isolada e um grupo cultural bem delimitado, para confrontação com o registro arqueológico.…”