O presente artigo objetiva analisar o processo decisório de interrupção de gravidez em uma equipe multiprofissional de um serviço de aborto legal. Busca-se identificar os fatores envolvidos nas decisões para a autorização do procedimento. Trata-se de um estudo qualitativo com observações no serviço, entrevistas com os profissionais e acompanhamento dos casos.Para a análise privilegiamos dois casos que solicitaram o procedimento de interrupção de gravidez. O primeiro é de uma universitária, grávida de oito semanas, que relata ter sofrido violência sexual após uma festa. Quando avaliada pela equipe, aparecem inconsistências entre a idade gestacional e a data da violência. O procedimento é autorizado pela equipe. O segundo caso é de uma moradora de rua, grávida de 19 semanas. A paciente se mostra confusa sobre a violência e a interrupção da gravidez é negada. A análise revela que o relato da paciente é considerado a principal evidência da violência, mesmo quando este apresenta algumas inconsistências. As pressões sofridas pelo serviço fazem com que a equipe se atenha à legislação vigente, a fim de não perder sua credibilidade dentro da instituição. A idade gestacional possui também um peso na decisão, visto que dificulta a negociação do procedimento com a equipe executora.