A luta de Olga por seus direitos: imigração, saúde e trabalho de mulheres em Pelotas, RS (década de 1940)

Abstract

Resumo O artigo analisa o processo de número 177 de 1945, em nome de Olga Tochttenhagen, uma moça de vinte anos, que fora demitida de uma alfaiataria por ter faltado ao trabalho, embora tivesse apresentado atestado médico ao seu empregador. Trata-se de documentação presente no Arquivo da Justiça do Trabalho do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel, que conta com mais de cento e dois mil processos trabalhistas, os quais estão sendo inseridos em um Banco de Dados com acesso irrestrito. A partir dos documentos, serão debatidos temas como a imigração na cidade; a moléstia que mais mortes provocava no período, ou seja, a tuberculose; além dos ofícios pretendidos para as mulheres. A leitura se vincula à história social do trabalho, à micro-história e à história das mulheres e de gênero.

A doença no acervo documental da Justiça do Trabalho de Pelotas (RS), 1939-1954

“…No processo, consta um atestado que informava que ela estava pré-tuberculosa e necessitava de descanso, devendo afastar-se para a zona rural. Sobre esse processo, julgado procedente integralmente, tendo em vista a luta de Olga para que o pagamento fosse realizado, foi escrito um artigo que procurou relacionar a imigração, o trabalho das mulheres e a discussão sobre doença em um contexto da década de 1940 (Gill, 2019).…”

Vida, história, moda e ativismo: uma revisão sistemática da literatura sobre a participação das mulheres no ofício da alfaiataria

“…Tamboukou (2016; analisa o livro que reúne os escritos e memórias de Jeanne Bouvier, uma costureira francesa que viveu entre os séculos XIX e XX, e trabalhou desde seus 11 anos; além disso, a autora examina cartas e escritos políticos de Désirée Véret-Gay, também uma costureira francesa líder no primeiro movimento feminista autônomo do século XIX. Gill (2019) realiza uma pesquisa em documentos do Arquivo da Justiça do Trabalho de Pelotas/RS e analisa parte da trajetória laboral de Olga Tochttenhagen, mulher que trabalhou em uma alfaiataria na década de 1940 e denunciou a forma como foi despedida pelo alfaiate empregador.…”

“…Nos estudos que analisam as histórias ou recortes de vida de personalidades dos séculos passados, constata-se como as costureiras envolvidas na indústria de confecção do vestuário foram líderes ou tiveram papéis essenciais nas lutas feministas, nos movimentos trabalhistas e no ativismo político, como Jeanne e Désirée na França(TAMBOUKOU, 2016;, Zelda na Austrália (GRIMSHAW, 2013) e Zuzu Angel e Olga no Brasil (SIMILI;MORGADO, 2015;GILL, 2019). Apesar dos obstáculos do sistema capitalista e da sociedade patriarcal, essas mulheres conseguiram liderar sindicatos e movimentos sociais, em épocas que esses espaços eram majoritariamente ocupados por homens, a fim de promover as necessidades de equidade e justiça social para as mulheres.…”

Vida, história, moda e ativismo:

“…Nos 22 artigos analisados, identificou-se que alguns abordam o trabalho das mulheres na costura, mas apenas comentam que esse trabalho poderia se estender às alfaiatarias, locais de trabalho essencialmente masculinos. Constataram-se dois artigos que tratam fundamentalmente da participação das mulheres no ofício da alfaiataria (GILL, 2019;BIRT, 2021).…”

“…As distinções abrangem as questões de gênero, em que as mulheres, mesmo capacitadas, permaneciam nas mesmas funções enquanto os homens tinham mais chances de ascender profissionalmente. Gill (2019) afirma ainda que o trabalho das mulheres estava bem presente no setor de pequenos serviços na cidade de Pelotas/RS, onde conduziu a pesquisa. Esses serviços incluíam alfaiatarias como a que Olga trabalhava.…”