Do tratamento moral à atenção psicossocial: a terapia ocupacional a partir da reforma psiquiátrica brasileira

Abstract

A partir de uma revisão bibliográfica sobre a constituição da terapia ocupacional como ciência da saúde, sobretudo quanto à sua evolução na Saúde Mental, discutem-se as diferenças do estatuto das atividades na Psiquiatria clássica e na Reforma Psiquiátrica brasileira. Os resultados da pesquisa revelam as transformações quanto à concepção de saúde e aos meios de trabalho da Terapia Ocupacional, buscando-se abandonar o Paradigma Psiquiátrico Hospitalocêntrico Medicalizador com vias ao Paradigma Psicossocial.

Percepção da prática profissional do Terapeuta ocupacional em Centros de Atenção Psicossocial 24h

“…Ao considerar o campo da saúde mental, vale ressaltar que se constitui pela interligação de diferentes saberes como psiquiatria, psicologia, neurociências, antropologia, sociologia, manifestações religiosas, ideologia, ética e moral. A equipe multidisciplinar é reconhecida dentro do campo da saúde mental como responsável por favorecer a partilha do saber entre os profissionais (Juns & Lancman, 2011;Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017). Sabe-se da importância da Terapia Ocupacional dentro de um CAPS 24h, bem como de seus alcances quanto na prevenção e na promoção de saúde para os usuários.…”

“…O movimento implicou na superação do modelo asilar vigente à época, o qual não mais condizia aos princípios éticos da sociedade. A Reforma contribuiu tanto para se repensar em novas modalidades terapêuticas ao tratamento das pessoas em sofrimento psíquico, quanto para refletir o lugar em que essas pessoas ocupam na sociedade (Ferreira et al, 2016;Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017;Jafelice, Ziliotto & Marcolan, 2020).…”

“…Nessa perspectiva, visava-se uma mudança nas práticas e atuação dos profissionais que lidam com saúde mental, tendo as formas alternativas como provedoras de uma atenção em saúde mais humanizada, e para isso a presença das medidas substitutivas se fazem cada vez mais presentes nas práticas desses profissionais. Tais medidas substitutivas têm por objetivo proporcionar intervenções considerando o sujeito e sua singularidade e levando em consideração a vida dele para além do sofrimento mental e/ou dependência química (Brasil, 2005;Assad, Pedrão & Cirineu, 2016;Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017). Em destaque, tem-se o surgimento de serviços de atendimento extrahospitalares: Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS); Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi, CAPSad); Centro de Atenção Diária (CADs); Hospitais Dias (HDs); Centros de Convivência e Cultura.…”

“…Em decorrência às mudanças implementadas pela Reforma Psiquiátrica, das apropriações e reformulações das práticas assistenciais à saúde mental, faz-se necessário o empoderamento dos profissionais para desempenhar tais práticas, assim como a sensibilização e capacitação desses profissionais para atuarem de forma humanizada e interdisciplinar (Ferreira et al, 2016;Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017).…”

“…Esses profissionais enxergam o usuário a partir de uma visão holística, dentro da esfera biopsicossocial. Estando consolidados no âmbito da saúde mental em conjunto com a Reforma Psiquiátrica brasileira, os terapeutas ocupacionais se utilizam de cuidados e estratégias para a reinserção social de usuários assistidos pelos CAPS, como a retomada de atividades significativas do cotidiano dos indivíduos, oficinas e atividades em grupo com objetivos terapêuticos específicos (como geração de renda, interação social e etc) (Assad, Pedrão & Cirineu, 2016;Shimoguiri & Costa-Rosa, 2017…”