Resistência aos números: a favela como realidade (in)quantificável

Abstract

Resumo Os grandes números, as estatísticas estatais, são produzidos ao longo de uma extensa cadeia de transformações na qual se criam entidades de um tipo particular: as realidades estatísticas. O texto analisa uma realidade específica, a favela, a partir de diferentes resistências à sua quantificação. Mostro que estas não interditam a produção dos números, mas, pelo contrário, são mobilizadoras, participando da criação do acordo necessário para que se produzam entidades consideradas reais. Também demonstro, no caso das favelas, a relação entre os dois sentidos da normalidade em jogo nas estatísticas: aquilo que é recorrente e o que é desejável e saudável.

Ações de resistência no complexo da maré

“…Também é fundamental lembrar que nas favelas há formas de resistência às sistematizações estatísticas oficiais. Na Maré, por exemplo, conforme apontado por Motta (2019), o censo criado em 2010, além de retificar dados, propiciou um movi-mento para que os moradores dessem nomes às ruas, ação esta que sugeria uma transformação da realidade estatística em realidade cotidiana. Tanto a criação de estatísticas públicas quanto os modos alternativos acima mencionados são formas de classificar e enquadrar pessoas, espaços e relações.…”

Painéis comunitários: a disputa pela verdade da pandemia nas favelas cariocas

“…Nessa configuração, portanto, os painéis parecem emergir em um campo de disputa em torno da verdade da pandemia nas favelas e periferias. Nesse sentido, seguindo Motta (2019), podemos pensar os painéis como a expressão de algo (a verdade da pandemia) e também como produtores de determinada realidade (das favelas no contexto da pandemia).…”

Abordagem Mindful Eating Em Um Centro De Atendimento Psicossocial Sumário Pelo Grupo Terapêutico Alimente: Um Relato De Experiência

“…Se no passado, as favelas eram estigmatizadas e tidas como uma ameaça à sociedade por serem consideradas regiões endêmicas, acresce-se hoje, a identidade social deteriorada devido ao alto índice de narcotráfico, utilização de armamentos pesados pelos traficantes, falta de políticas de segurança e/ou políticas públicas de inclusão, e, precariedade de geração de renda. Assim, condições de vulnerabilidade 1 se manifestam em forma de violência progressiva (MOTTA, 2019).…”