Este artigo trata das correlações entre raça, envelhecimento e silêncio presentes nas trajetórias de dois artistas negros da música popular brasileira: Alfredo da Rocha Viana Filho, ou Pixinguinha, e Dorival Caymmi. Recuperando alguns momentos decisivos de seus processos de consagração perante a crítica especializada e a historiografia da música popular, o artigo procura evidenciar como o silêncio acerca de determinadas marcas sociais de ambos, notadamente a cor, figurou como uma dimensão crucial de suas experiências raciais. Nas biografias e entrevistas existentes, salvo raríssimas exceções, Pixinguinha e Caymmi não são identificados como negros, ao passo que abundam referências à idade e à genialidade deles. Além disso, a não enunciação da negritude, analisada no contexto específico de suas trajetórias como instrumentistas e compositores, pode ser entendida também como estratégia, empregada por eles próprios, para tentar burlar certos constrangimentos decorrentes do racismo presente na sociedade brasileira.