Perspectivas sobre a “Terra sem Mal” na poesia contemporânea

Abstract

Resumo Os fenômenos de criação e destruição da terra fazem parte da complexa cosmologia Guarani, que foi registrada no livro As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani, do etnólogo Curt Nimuendaju. Essa visão cataclísmica do mundo leva-os a crer que a terra que hoje conhecemos poderia ser novamente destruída. Em contrapartida, existiria a Yvy marã’ey, uma terra indestrutível, cuja localização é desconhecida, o que em parte explicaria o comportamento migratório dos Guarani. Traduzido como “Terra sem mal”, o termo Yvy marã’ey parece apontar para um caráter utópico e messiânico, tema que será retomado por vários poetas contemporâneos, tais como Sophia de Mello Breyner, Josely Vianna Baptista e Waldo Motta. Este artigo pretende discutir em que medida, ao encenarem um diálogo com a cultura indígena, esses poetas elaboram também uma crítica do presente.

“Ali é o fim do mundo e o princípio de tudo”: A terra sem mal na poesia de Waldo Motta

“…O projeto poético de Waldo não é inovador apenas em relação aos temas de que trata -que nascem de seus estudos com a língua e a cultura tupi-guarani -, mas também porque propõe a renovação da poesia ao buscar no-vos meios de expressão, unindo o chulo ao erudito. O que se percebe é uma linguagem coloquial, segundo Leal (2021), que reforça o deboche por meio do resgate da tradição, valendo-se de artifícios poéticos populares da lírica portuguesa que foram muito utilizados na composição de versos satíricos. A respeito dos métodos de composição presentes em Bundo e outros poemas, as palavras de seu autor, mordazes no dizer, se não são óbvias, ao menos são certas:…”