Contexto socioespacial de vítimas de homicídio doloso em uma capital do nordeste brasileiro

Abstract

Resumo Introdução O homicídio, para além de um problema de saúde pública, é também revelador de um complexo contexto de desigualdade social, que impera nas capitais e grandes cidades do Brasil. Objetivo Analisar o contexto socioespacial de vítimas de homicídio doloso em uma capital do nordeste brasileiro. Método Estudo ecológico, de base documental, com abordagem quantitativa, realizado em João Pessoa, no estado da Paraíba, no Brasil, em 2015. Consideraram-se 369 vítimas de homicídio doloso. Os dados foram analisados à luz da estatística descritiva e da geografia espacial. Resultados As vítimas de homicídio doloso eram predominantemente homens, adultos jovens, não brancos, solteiros e com menos de sete anos de estudo. Ademais, verificou-se sobreposição, em grande medida, das áreas em que residiam aqueles indivíduos com as áreas de piores condições socioeconômicas. Conclusão O homicídio repercute substancialmente no quadro epidemiológico, porquanto, para além de sua característica letal, as questões que o circunscrevem, em que figura, de forma importante, são questões sociais complexas, amplas e de difícil modificação no curto prazo.

Desigualdades raciais na mortalidade por causas violentas no Brasil

“…A literatura corrobora com o perfil de vítimas descrito neste estudo e afirma que a maior prevalência de homicídios ocorreu em negros, adultos jovens e de baixa escolaridade, em sua maioria moradores de áreas periféricas (Veloso et al, 2020). Como citado, aspectos como escolaridade e principalmente raça/cor figuram como determinantes sociais que carecem de reflexões, sobretudo pelo grau de naturalização a que chegou o óbito de indivíduos com essas características (Veloso et al, 2020). A renda e a escolaridade se combinam para determinar maior mortalidade por homicídio entre a população mais pobre em uma capital brasileira (Mata & Costa, 2020).…”

“…O homicídio doloso é considerado um fenômeno global, que apresenta tendência crescente em países da América Latina, principalmente no Brasil (Veloso et al, 2020) Vasconcelos, 2020). Mesmo com o conhecimento de que os homicídios resultem de combinações multifatoriais, evidencia-se a concentração em uma população em precárias condições socioeconômicas, vulnerável ao aumento do desemprego e do trabalho informal e exposta à influência do crime organizado, representado pelo tráfico de drogas e pelo comércio ilegal de armas de fogo (Veloso et al, 2020).…”

“…O homicídio doloso é considerado um fenômeno global, que apresenta tendência crescente em países da América Latina, principalmente no Brasil (Veloso et al, 2020) Vasconcelos, 2020). Mesmo com o conhecimento de que os homicídios resultem de combinações multifatoriais, evidencia-se a concentração em uma população em precárias condições socioeconômicas, vulnerável ao aumento do desemprego e do trabalho informal e exposta à influência do crime organizado, representado pelo tráfico de drogas e pelo comércio ilegal de armas de fogo (Veloso et al, 2020). Além disso, a expansão dos homicídios para locais distantes de áreas metropolitanas, principalmente no Norte e Nordeste do Brasil, coincide com intensa e desordenada urbanização de suas capitais, acentuação das desigualdades sociais e intensificação de confrontos pela posse de terras indígenas e quilombolas (Soares Filho et al, 2020).…”

Gender and race inequalities in adolescent and young adult homicide mortality rates: a multilevel ecological analysis of Brazilian municipalities

“…In capitals and large cities, homicides are concentrated in areas occupied by low-income populations and the lowest provision of services, with precarious urban infrastructure and low levels of human development. Several indicators of deficiency superimposed in the same place increase the chances of people being targets of the problems in question 17 .…”

Homicídios: mortalidade e anos potenciais de vida perdidos

“…Além da sua letalidade, repercute nos dados epidemiológicos devido às questões complexas que o envolvem que são amplas e de difíceis mudanças em prazo curto. (1,2) Em 2016, mais de 560.000 pessoas foram assassinadas violentamente, aproximadamente 385.000 dessas mortes foram homicídios intencionais, o que torna ainda esse fenômeno importante preocupação mundial. (3) Diante do contexto recente, em 2015, a taxa de homicídio na América Latina e Caribe foi cinco vezes maior do que a média global.…”