“Eles vão certeiros nos nossos filhos”: adoecimentos e resistências de mães de vítimas de ação policial no Rio de Janeiro, Brasil

Abstract

Resumo Este artigo trata das experiências de mulheres negras organizadas em grupos de ativismo social para lutar por justiça pelas mortes dos seus filhos, vítimas da atuação violenta de agentes do Estado. Essas mortes são analisadas como parte do genocídio da população negra e são resultado da ação de um Estado que opera no modo necropolítico, em que o racismo é ferramenta ideológica para a produção de descartabilidade de corpos negros. Neste trabalho, a partir dos relatos de quatro mulheres residentes em territórios dominados pela violência armada no Rio de Janeiro, conhecemos a forma como elas se organizam politicamente na luta por justiça, memória e reparação; e também seus adoecimentos e estratégias de cuidado individual e coletivo. Observamos a ausência de abrigo das suas demandas pelo sistema de saúde e pelas políticas de assistência social, ao passo que o espaço do ativismo se destaca como produtor de cuidado e acolhimento.

Vítimas indiretas dos homicídios: impactos; apoio recebido e estratégias de superação

“…Isso é observado de forma mais nítida entre os entrevistados do grupo 1, cujos parentes foram mortos por agentes de segurança pública. Nesses casos, devido à demasiada demora de uma resolução judicial do caso, o luto se torna um processo sem fim que modifica os laços familiares com grande impacto sobre essas pessoas (Araújo;Sousa;Silva, 2022). Esse processo de luto duradouro, que provoca enorme sofrimento, também pode ser observado nos familiares que tiveram seus entes policiais assassinados.…”

“…Baseado em estudos anteriores que descreveram o desamparo social como uma condição recorrente junto às vítimas indiretas (Araújo;Silva, 2022;Costa et al, 2017), buscou-se investigar se houve apoio das instituições governamentais junto a esses familiares. Como exemplos de instituições governamentais estão os equipamentos da saúde, assistência social, justiça e segurança pública, os quais, em maior ou menor grau, são envolvidos em eventos dessa natureza.…”

Indirect homicide victims: impacts, support received, and coping strategies

“…This is most clearly seen among the interviewees in group 1, whose relatives were killed by public security agents. In these cases, due to the excessive delay in a judicial resolution of the case, mourning becomes a never-ending process that changes family ties with great impact on these people (Araújo;Sousa;Silva, 2022). This process of prolonged mourning, which causes enormous suffering, can also be observed in the people who have had their police family members murdered.…”

“…Based on previous studies that described social helplessness as a recurrent condition among indirect victims (Araújo;Silva, 2022;Costa et al, 2017), we sought to investigate whether there was support from government institutions for these family members. Examples of government institutions include health, social assistance, justice, and public security agencies, which, to a greater or lesser extent, are involved in events of this nature.…”

Necropolítica e a estigmatização do corpo negro masculino no sistema prisional brasileiro

“…A construção do mito do "homem negro bandido" trazida por Nina Rodrigues, "tem importante papel para a construção de uma criminologia que coloca o negro como principal suspeito das contravenções policiais" [21] . A naturalização desses estereotípicos vem se consolidando e fortificando ainda mais os mecanismos racistas dentro das instituições carcerárias.…”