Aprendendo a clínica do sofrimento social: narrativas do internato na Atenção Primária à Saúde

Abstract

Resumo No Brasil, o descompasso entre a formação médica e as necessidades assistenciais na atenção primária à saúde, em especial para as populações mais vulneráveis, demandou mudanças nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Medicina, com ampliação da carga horária do Internato na APS. Este trabalho é uma pesquisa qualitativa exploratória, que investigou documentos da avaliação formativa do Internato Integrado em Medicina de Família e Comunidade e Saúde Mental da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que atendem populações vulneráveis no município do Rio de Janeiro. Ao todo, foram analisados documentos produzidos por 55 estudantes e utilizou-se a hermenêutica dialética como método de análise. A investigação apontou distintos graus de sensibilidade ao sofrimento social experimentado por usuários de Clínicas da Família, ao longo das 22 semanas de estágio. As narrativas foram agrupadas em 5 eixos: tensionando a cisão medicina/sociedade; vulnerabilidade extrema e saúde; violência estrutural cotidiana e saúde; serviço de saúde como recurso ou intruso; território como potência de vida. O internato contribuiu para aprimorar visões clínicas centradas nas necessidades dos usuários, sendo necessários estudos adicionais para avaliar a incorporação efetiva destas competências à prática profissional.

Processual Validity in Qualitative Research in Healthcare

“…Case 1 41 explores the gap between medical education and patients’ needs in primary health care, especially for the most vulnerable population. Strong social inequalities characterize Brazil, and one of the challenges for medical education is to overcome the biomedical paradigm, which is physician- and hospital-centered, and move toward primary health care practices centered on the suffering individual, who is inseparable from their social condition.…”

Percepções de egressos do curso de Odontologia sobre o estágio supervisionado na Atenção Primária em Saúde

“…Apenas O fazer na APS está para muito além do atendimento no consultório e, ainda que seja de grande importância, é pertinente refletir sobre os "porquês" das "limitações e intercorrências", o significado das reuniões de equipe e as tantas outras atribuições de uma Equipe de Saúde Bucal na ESF, dentro e fora das unidades de saúde 8 . Essa fala mostrou o quanto precisamos apoiar a preceptoria, no sentido de utilizar todas as situações como oportunidades de aprender e ensinar, não apenas sobre o serviço, mas sobre os próprios desafios e, especialmente, os modos de defender o SUS.…”

“…A vivência qualificada nos campos de estágio na APS favorece alguns discernimentos essenciais, tais como: o "serviço de saúde como recurso ou intruso; território como potência de vida" 8 , que nenhum componente teórico seria capaz de produzir.…”

Percepção da Equipe de Saúde da Família sobre o cuidado a usuários de drogas

“…In fact, the centrality in the hospital and the hegemony of the biomedical paradigm in medical schools still contribute to the inadequacy of the profile of professionals trained in Brazil in our contemporaneity 18 . In this context, the Brazilian Association of Psychiatry, an institution that, since the early 2000s, has taken a strong critical and public position against the Psychiatric Reform (PR), has mobilized paradigmatic problematizations in the area of mental health, favoring professional bio-scientific concepts and practices and based on the market logic of the pharmaceutical industry across civil society 19,20 .…”