Medicalização do parto: os sentidos atribuídos pela literatura de assistência ao parto no Brasil

Abstract

Resumo Este estudo analisa os sentidos atribuídos ao conceito de medicalização do parto a partir de uma revisão narrativa de literatura em periódicos nacionais publicados entre 2000 e 2017. Parte-se da concepção mais geral sobre medicalização – entendida como o processo pelo qual a medicina amplia e consolida a sua área de atuação nos diversos campos da sociedade – e das diferentes formulações do conceito concebidas por estudiosos do século XX. Foram construídas cinco categorias que relacionaram medicalização do parto com: intervenções, disputa profissional, violação de direitos das gestantes, cenário do parto e reflexo da medicalização da sociedade. Nas quatro primeiras categorias encontramos um predomínio de sentidos que exploram uma interface entre medicalização e humanização, constituindo-se como duas supercategorias analíticas, com um predomínio de uma crítica ao modelo medicalizado. Fugindo a este modelo de análise, a categoria medicalização do parto como reflexo da medicalização da sociedade se concentra em torno de um sentido de medicalização do parto como parte de um processo mais amplo que envolve diferentes atores que seriam copartícipes no processo de assistência, apontando para uma possibilidade de análise mais aprofundada em que considera a complexa conexão entre saúde e sociedade moderna.

Conflitos bioéticos na assistência perinatal: revisão integrativa da literatura

“…No modelo hegemônico de assistência ao trabalho de parto e parto, há uma excessiva prática intervencionista, como a medicalização e outros procedimentos desnecessários, que potencializam a crítica relacionada ao modelo, em detrimento de boas práticas, num modelo dito como humanizado (Nicida et al, 2020) Em um estudo realizado por Sehnem e colaboradores (2020) cita que devido às práticas intervencionistas realizadas rotineiramente, encontrou o sentimento negativo em relação ao parto, ligada ao entendimento da violência obstétrica realizada pelos profissionais de saúde, diferenciando do modelo de cuidado preconizado. Uma pesquisa destaca a importância do trabalho da equipe de enfermagem para fortalecimento das boas práticas e técnicas que preconizam o parto natural, visto que é uma maneira de dar autonomia e conforto para as mulheres em trabalho de parto e parto (Silva, Silva & Batista, 2020).…”

Avaliação da satisfação de mulheres com trabalho de parto e parto em hospital de ensino

“…Atualmente, muitos procedimentos vêm sendo realizados de forma rotineira e sem base em evidências científicas, desvinculando a assistência das boas práticas e podendo causar resultados indesejáveis e prejudiciais tanto à mulher quanto ao recém-nascido (10) . Segundo o Ministério da Saúde (MS) muitas mulheres e seus recém-nascidos são expostos a altas taxas de intervenções, as quais deveriam ser utilizadas de forma parcimoniosa e apenas em situações de necessidade, não como rotineiras (11) .…”

“…O uso rotineiro da medicação farmacológica em detrimento dos meios não farmacológicos para alívio da dor é uma prática descrita no modelo medicalizado de assistência ao parto, e que é alvo de críticas de muitos autores, segundo uma atual revisão narrativa sobre a medicalização do parto (10) . Este cenário pode estar relacionado à falta de preparo das mulheres e dos profissionais de saúde no manejo e no entendimento do processo de parto como um evento inerente ao organismo materno.…”

Assessment of women’s satisfaction with labor and childbirth at a teaching hospital

“…Currently, many procedures are being performed routinely and without scientific evidence, separating care from good practices and may causing undesirable and harmful results for both the woman and the newborn (10) . According to the Ministry of Health (MH) many women and their newborns are exposed to high rates of interventions, which should be used sparingly and only in situations of need, not as routine (11) .…”