A convergência estratégica em Arranjos Produtivos Locais: uma análise sobre a cooperação entre atores em rede em duas regiões cafeeiras

Abstract

Resumo: O desenvolvimento de novos Arranjos Produtivos Locais (APLs) no Brasil é um tema de extrema importância no atual contexto econômico e social brasileiro. As Indicações Geográficas (IG) surgem com o objetivo de proteger e valorizar produtos e serviços típicos de uma região. O resultado é que estes APLs que buscam reconhecimento de origem necessitam desenvolver aspectos ligados à governança local e à coordenação de relacionamentos e interesses diversos. O objetivo deste trabalho foi estudar um APL consolidado na produção de café, o do Cerrado Mineiro, em busca de aspectos estratégicos que expliquem seu sucesso e, através de uma pesquisa-ação, reproduzir as categorias estratégicas encontradas na articulação estratégica da construção da IG da região Oeste da Bahia. Nos resultados, confirma-se a validação do modelo teórico de convergência estratégica para APLs, que é definido como uma série de ações e práticas dos atores sociais inter-relacionados através de uma rede em um arranjo produtivo local, que possuem interesses e objetivos em comum definidos nas dimensões (1) organizacionais (estruturais), (2) históricas e de (3) ações coletivas em prol de um produto ou serviço. O processo de convergência não é estático, é performático, modifica as estruturas de governança e coordenação. Compreender a dinâmica destes fenômenos através de diferentes práticas estratégicas seria valioso para estudos futuros, tanto no café como em outras IGs.Palavras-chaves: arranjo produtivo local, convergência estratégica, origem, café, governança. Abstract: The development of new local clusters in Brazil is a very important subject in both Brazilian economic and social current scenarios. Geographical Indications (GI) arise with the objective of protecting and valuing typical products and services. These clusters that seek origin recognition need to develop aspects related to local governance and the coordination of diverse relationships and1. Data de submissão: 24 de julho de 2017. Data de aceite: 22 de abril de 2018.interests. The objective of this paper was to study a consolidated cluster in coffee production, the "Cerrado Mineiro" in search of strategic aspects that explain its success, and, through an action research, to reproduce the strategic categories found in the "Cerrado Mineiro" in the strategic articulation of the construction of the GI of "região Oeste da Bahia". The results confirm the validation of the theoretical model of strategic convergence for clusters, which is defined as a series of actions and practices of interrelated social actors through a network in a cluster, which have common interests and objectives defined in the (1) organizational (structural), (2) historical and (3) actions to develop and promote a product or service. The process of convergence is not static, it is performative, it modifies the structures of governance and coordination. Understanding the dynamics of these phenomena through different strategic practices would be valuable for future studies, both in coffee and in other GIs.

Coopetição Entre Cafeicultores, Cooperativas E Associações: Evidências No Mercado Brasileiro De Cafés Especiais

“…As restrições associadas ao tamanho dessas PMEs podem dificultar sua capacidade de inovação e crescimento, motivando-as a cooperar com seus concorrentes (Kraus et al, 2017). Administrar todas essas esferas de relacionamento exige dos cafeicultores um esforço de coordenação conjunta, que é crucial para lidar com o envolvimento do grupo nas negociações coletivas, em que o componente territorial desempenha papel importante (Correa et al, 2016;Leme et al, 2019).…”

“…Além da própria metodologia adotada, que pode ser considerada uma limitação do trabalho, uma vez que se trata de uma pesquisa qualitativa exploratória, a análise está sujeita a interpretação dos pesquisadores, cuja experiência com a literatura de inovação deve ser reconhecida como fator de influência. Naturalmente, as especificidades das regiões e do período explorados podem dificultar a sua generalização para outros segmentos e Indicações Geográficas, que dependem particularmente das estruturas de governança e coordenação desenvolvidas (Leme et al, 2019).…”

“…Além do mais, o café possui o maior número de registros de IGs entre produtos do agronegócio no Brasil (INPI, 2021). Nessas IGs, cafeicultores comumente se envolvem em relacionamentos interorganizacionais em diversos níveis (Correa, Fante & Dallabrida, 2016), formalizados por modelos jurídicos conhecidos de agremiação, como cooperativas e associações (Leme, Aguiar & de Rezende, 2019), em busca de recursos que, de outra forma, seriam inacessíveis (Gnyawali & Park, 2009;Morris, Kocak & Özer, 2007).…”

“…Ainda que a prática da coopetição seja reconhecida e relevante no agronegócio, ela foi pouco explorada até agora (Leme et al, 2019;Queiroz, 2015). Como foi visto, cafeicultores envolvidos em projetos de IGs dispuseram-se a encarar a competição, sem abandonar necessariamente as práticas cooperativas, que os aproximaram.…”

“…Os dados qualitativos foram obtidos nas entrevistas semiestruturadas realizadas com os cafeicultores e/ou familiares, as cooperativas, as instituições apoiadoras e os gestores das associações que administram as IGs, além da análise de documentos, sítios e a observação direta do pesquisador.Para este trabalho, foram exploradas as IGs da "Região do Cerrado Mineiro" e da "Alta Mogiana", que foram escolhidas em função do tempo de existência delas, o que permitiu observar etapas distintas da construção de relações de coopetição entre seus componentes. Assim, a primeira é a mais antiga IG de café do Brasil, um caso de sucesso e referência(Correa et al, 2016;Leme et al, 2019), de vanguarda na inovação(Valente, Emília, Moraes, Fernandes, & Maria, 2013), formalizada em 2005 e situada no principal estado produtor de café do país, Minas Gerais; e a segunda uma IG intermediária, mais recente e em processo de amadurecimento, tendo seu processo aprovado em 2013, situando-se no estado de São Paulo. IGs mais incipientes poderiam apresentar comportamentos coopetitivos pouco proveitosos para o objeto da pesquisa.Inicialmente, os cafeicultores das respectivas IGs foram conhecidos a partir do primeiro contato estabelecido com as associações, representadas aqui pelos seus gestores.…”