O artigo procede a uma análise crítica do discurso à Estratégia Nacional de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente de Portugal 2014-2020 (ENEI). O propósito é interpretar as representações sobre o conhecimento científico e tecnológico subjacentes à ENEI e suas relações com o paradigma de desenvolvimento por si promovido, procurando discutir as correspondências com as representações da natureza, da sociedade e da educação. O trabalho apoia-se teoricamente na análise dos sistemas-mundo para articular a dimensão discursiva com a crítica normativa. A análise permitiu identificar a presença de uma conceção linear do desenvolvimento (catching up), de uma representação das pessoas, da natureza e da cultura como recursos, bem como de uma noção de conhecimento científico como um continuum de experimentação, descoberta e comercialização. Finalmente, identificou-se uma autorrepresentação de Portugal compatível com a categoria teórica da semiperiferia. Palavras-chave: análise crítica do discurso; conhecimento científico; política científica e tecnológica; política de inovação; Portugal. 1 As representações sociais serão entendidas, parafraseando Marková (2006), como a síntese das explicações que emergem e são reproduzidas pela comunicação intersubjetiva e que constituem um tipo específico de conhecimento que afeta o modo como as pessoas pensam e organizam a sua vida quotidiana, geralmente denominado "senso comum".