Abordar a temática da raça, neste momento, é de fundamental importância. Embora já tenhamos, no país, vários avanços históricos com relação a questões raciais, como, por exemplo, políticas públicas e políticas linguísticas que evidenciam a necessidade de trazer para o contexto brasileiro a questão da raça como central na elaboração dessas normativas, passamos por um período difícil, tanto nacional como internacionalmente. Por essa razão, demarcar esse espaço é necessário para que possamos garantir que reflexões críticas estejam presentes, já que "o racista numa cultura com racismo é por esta razão normal" (NASCIMENTO, 1978, p. 85 apud MILANEZ et al., 2019, p. 2165.Não existe história do Brasil sem racismo, principal motivador da escravização dos povos indígenas e africanos.A doença do racismo, essa espécie de epidemia global do racismo se originou na nossa separação da natureza, quando nós nos separamos da natureza a ponto de não compartilharmos mais com a natureza a riqueza da diferença. Quando se disse que a diferença é o outro, é a impossibilidade de aceitar a diferença, de aceitar o outro como diferença -isso gerou o que nós reconhecemos historicamente como racismo (KRENAK in MILANEZ et al., 2019, p. 2172.Mas a terminologia raça, que é construída e reconstruída dia a dia social, histórica, cultural e discursivamente, através das nossas relações sociais, ainda tem significado contestado, a tal ponto de "os trabalhos que mostram as consequências (e a continuação) dessa escravidão [receberem] pouca atenção" (MILANEZ, 2019(MILANEZ, , p. 2166, o que é muito grave, pois elas seguem entre nós de inúmeras formas.Eventos recentes, como, por exemplo, o assassinato de Mariele Franco, a morte, por sufocamento, de George Floyd nos Estados Unidos, do menino João Pedro, que foi deixado sozinho no elevador pela patroa, enquanto a mãe passeava com o cachorro da patroa e de João Alberto, que foi espancado até a morte dentro de um supermercado, bem como os inúmeros assassinatos dos Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul são motivados por racismo. Ou seja, se essas pessoas fossem brancas, o que ocorreu com elas não teria ocorrido.Sendo assim, falar sobre raça é afirmar enfaticamente que ela é um demarcador de corpos que permite às pessoas viver ou morrer.Essa questão do genocídio começa quando os europeus chegaram aqui e disseram: "Não são nada, nem são gente, nem são humanos, que não têm fé, porque não tem lei, porque não tem rei. Então são o que? São nada". Daí pra cortar a cabeça ou partir ao meio com um facão ou atravessar com uma bala não faz muita diferença, porque a morte já foi decretada, foi executada antes (GAMELA in