Este artigo analisa, sob a ótica dos estudos bakhtinianos, relatos confessionais de mulheres sobreviventes de violência doméstica no podcast Atena: elas por elas. Em seus relatos, essas mulheres tematizam suas vivências situadas no espaço-tempo de seus relacionamentos afetivos, marcados pela violência de gênero. A análise empreendida focalizou o conceito de excedente de visão a fim de observar como sujeitos que mantêm relações de alteridade com mulheres que foram vitimizadas valoram as situações de violência, a partir de seu lugar exotópico - de extralocalização. Os resultados demonstram que os excedentes de visão discursivizados no podcast, por vezes, dão acabamento à mulher como vítima da situação de violência; e, outras vezes, naturalizam a violência doméstica, até mesmo culpabilizando a vítima. Este último caso trata-se de excedentes de visão constituídos no bojo de ideologias machistas legitimadas pela cultura do patriarcado que sustentam as desigualdades entre os gêneros, contribuindo para a perpetuação da violência contra a mulher.