Analisa-se, nesta tese, o processo de constituição dos discursos sobre ensino de língua portuguesa em proposições curriculares produzidas nas décadas finais do século XX e iniciais do século XXI por instâncias oficiais responsáveis pelo estabelecimento de referenciais orientadores do currículo da escola básica. Observa-se de que modo a concorrência entre discursos de base (neo)liberal, e discursos de base sociointeracionista ou sócio-histórica, condicionou a produção de proposições curriculares no Brasil, em relação à alternância entre políticas econômicas de caráter desenvolvimentista e políticas neoliberais orientadas pelos processos de financeirização da economia. Fundamentada em perspectiva discursiva, a análise dos dados evidencia um processo de aumento das tensões entre os discursos pedagógicocurriculares sobre ensino de português em situação de concorrência no período observado.Ainda que essas relações interdiscursivas tenham sido por vezes representadas como de continuidade, nos discursos pedagógico-curriculares produzidos a partir da década de 90, em relação a suas bases genéticas, o discurso sociointeracionista constituído na década anterior, caracterizam-se, de fato, polêmicas e rupturas nas relações de um discurso a outro, intensificadas nas primeiras décadas do século XXI. Propõe-se a tese de que os discursos pedagógico-curriculares sobre ensino de português no Brasil, nas condições de produção que se ordenaram após o ano de 2016, constituem-se em processos de inversão das regras semânticas próprias aos discursos pedagógico-curriculares de concepção sócio-histórica, alinhando-se ao projeto de Estado de base financeiro/rentista em seus objetivos de liquidação das políticas de Estado de base social.