A enunciação escrita em Benveniste: notas para uma precisão conceitual

Abstract

RESUMO Este texto apresenta uma proposta de interpretação para a expressão enunciação escrita, presente em “O aparelho formal da enunciação”, de Émile Benveniste, com vistas ao estabelecimento de princípios norteadores do estudo da enunciação escrita no quadro formal de realização da enunciação. Procede-se a um estudo de natureza conceitual para, em seguida, apresentar, em termos prospectivos, possibilidades de abordagem. Para tanto, procede-se a um estudo conceitual não apenas no referido artigo, mas também em outros textos do autor em que o tema da escrita é abordado para, finalmente, precisar-se o sentido que se pode atribuir à expressão. O resultado da pesquisa indica que há diferenças de tratamento do problema da escrita na obra do autor, permitindo concluir que a expressão enunciação escrita, apesar de guardar relações com a noção geral de escrita, se distingue desta em função de sua vinculação ao quadro formal de realização da enunciação esboçado por Benveniste.

From heard to narrated: therapist-subject with aphasia interlocution in an activity with comic books

“…The enunciative structures made evident in the data analyzed herein refer to the statement about the process of acquisition and development of children's language (8) . From the Benvenistian body of work (3) , the "singularity of each speaker when they appropriate the language to enunciate" (8:170) stands out, evincing structures that bear the presence of the speaker and the addressee. One may consider that, in the context of coexistence between subjects with and without aphasia, such a singularity cannot be recognized depending on the position of the subject without aphasia.…”

“…It is worth highlighting that such a denomination, inspired by the propositions of the Convention on the Rights of Persons with Disabilities (2) -which incorporates, at the basis of the definition of disabilities, the association of biological and sociocultural factures -, marks the fact that, before aphasic manifestations (stemming from biological impairments), there is a person that carries the history and culture of their time and themselves. Hence, we move away from the adjectivization of the subject (aphasic), an attitude specific to normative disciplinary knowledge, and highlight the condition of people with language in a condition of aphasia, emphasizing a conception of language and subject from the perspective of the enunciative linguistics of Benveniste (3) , especially regarding the universal-particular relationship.…”

“…Regarding the above, the pathological dimension of language must be addressed in the face of the singular organization of the subject that enunciates; hence, the motor and the sensory are related to the position the subject occupies in the language (4) . Such singularity is considered, through the Benvenistian postulate, that subjectivity is expressed through the transformation of the language into discourse (3) . This transformation, conditioned by the enunciative act and, therefore, the study of the therapistsubject with aphasia interlocution, is based on the recognition of the different and simultaneous processes performed in the enunciation that result in the dimension of the discourse.…”

Do ouvido ao narrado: interlocução terapeuta-sujeito com afasia em atividade com história em quadrinhos

“…Convém destacar que, com tal denominação, inspirada nas proposições da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2) -que incorpora na base da definição das deficiências a associação de fatores biológicos e socioculturais -, marca-se o fato de que, antes das manifestações afásicas (decorrentes de comprometimentos biológicos), há uma pessoa que carrega a história e a cultura de seu tempo e de si mesma. Assim, afasta-se da adjetivação do sujeito (afásico), atitude própria de saberes disciplinares normativos, mas, sim, destaca-se a condição das pessoas com linguagem em condição de afasia e ressalta-se uma concepção de linguagem e de sujeito na perspectiva da linguística enunciativa (3) , especialmente no que diz respeito à relação universal-particular.…”

“…Assim, o motor e o sensorial estão relacionados com a posição que o sujeito ocupa na língua (4) . Dada singularidade, é considerada, através do postulado enunciativo, que a subjetividade se expressa por meio da transformação da língua em discurso (3) . Essa transformação é condicionada pelo ato enunciativo e, deste modo, o estudo sobre a interlocução terapeuta-sujeito com afasia é embasado no reconhecimento dos diferentes e simultâneos processos performados na enunciação, que resultam na dimensão do discurso.…”