Muito além dos nutrientes: experiências e conexões com crianças autistas a partir do cozinhar e comer juntos

Abstract

Este estudo indagou como ampliar a análise da alimentação de crianças autistas, considerada inadequada pela seletividade alimentar ou pela dificuldade de interação nos momentos das refeições, atribuídas a alterações no processamento sensorial e a dificuldades sociais, comunicativas e cognitivas descritas no transtorno. A partir da perspectiva etnográfica, foi realizada observação participante, com registro em diários de campo, de oficinas culinárias com crianças/adolescentes autistas com vistas a analisar as relações que as crianças estabelecem com o alimento e os utensílios, com o espaço físico, entre elas e com adultos. Os registros foram analisados a partir da noção de experiência de Bondía e da Teoria Ator-Rede. Os dados produzidos mostraram singularidades na realização das tarefas de cozinhar e na aceitação das receitas. Algumas crianças não comeram os alimentos, mas cheiraram, lamberam e manipularam os ingredientes em momentos de experimentação, a partir da mediação dos profissionais, facilitadora da conexão das crianças com a comida e o comer. As interações estabelecidas com alimentos e utensílios apontam para a importância da comida e do cozinhar como mediadores da conexão das crianças com seus pares, com os adultos e com o mundo. Essa experiência rompeu com a valorização homogeneizadora das dificuldades de interação das crianças autistas e reforçou a comensalidade como ferramenta de construção de redes de cuidado. Pensar a alimentação dessas crianças em uma perspectiva ampliada é valorizar a subjetividade, a relação com o alimento e a interação entre pessoas nos momentos das refeições para além da compreensão biológica restrita aos nutrientes.

Hábitos e comportamentos alimentares de crianças com Transtorno do Espectro Autista: Uma revisão integrativa

“…Com base nas experiências realizada por De Oliveira e Frutuoso (2021), foi possível compreender o alimento como intermediador de conexões, incluindo o campo sensorial: cheirar; tocar ou não; lamber; comer ou não e passar o alimento pelo corpo, permitindo o acolhimento das diferenças e perceber a complexidade das relações que crianças com autismo estabelecem em grupo e ambiente institucional. Além disso, foi identificado que alguns gestos e comportamentos são descritos de modo generalista acerca do transtorno, norteando compreensões restritas e limitando múltiplas ações que podem potencializar conexões (De Oliveira & Frutuoso, 2021).…”

Autistic children and adolescents and their parents: being and having meals together

“…Food, therefore, is configured as the first social learning of human life [18]. In this sense, thinking about food and shared eating, in educational and care spaces, requires considering displacements, movements -learning [19].…”