“Taca cachaça que ela libera”: violência de gênero nas letras e festas de forró no Nordeste do Brasil

Abstract

A violência contra a mulher é, antes de tudo, uma questão de valores culturais hierárquicos de gênero produzidos socialmente. Desse modo, esta pesquisa buscou compreender os sentidos atribuídos à violência sexual contra a mulher expressa nas letras de forró por rapazes adolescentes residentes na periferia de Fortaleza, Ceará, Brasil. Partimos da etnomusicologia, cuja teoria considera que estudos de músicas regionais e suas performances transpõem o espaço geográfico de sua execução, na medida em que descortinam práticas universalmente disseminadas de legitimação de violências. A pesquisa foi realizada em escolas estaduais do bairro Bom Jardim, na periferia de Fortaleza. Esse bairro registra os piores índices de violências contra as mulheres do município. Foram realizados grupos focais com seis a oito participantes, em que foram debatidas três músicas de forró cujas letras remetiam à violência sexual. Os resultados demonstraram como as músicas reproduzem e influenciam ideologias patriarcais entre os jovens nordestinos. Observa-se nas falas o discurso do “estupro reverso”, que busca justificar a violência sexual por meio da inversão de papeis de gênero, ignorando assimetrias socialmente construídas. O forró se demonstra uma arena de gênero, onde gladiadores competem para registrar ideias de masculinidade, sexualidade e relações de gênero, replicando o sexismo dominante na sociedade contemporânea e contribuindo para a perpetuação da violência contra a mulher.

A relação entre comportamento social em adolescentes e música: uma revisão sistemática

“…Conforme mencionado, a busca nas bases de dados PubMed, BVS-SI e PsycINFO apresentou o número inicial de 140 pesquisas; contudo, no final, tem-se uma amostra de oito artigos, entre os quais se encontram estudos de 2014 a 2019, publicados nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil. Tais artigos apresentam temáticas como conectividade social, definição de gostos por meio do processamento da música pelo cérebro 17,20 , modificações na identidade e no modo de ver o mundo 19,23 , comportamento social do jovem 18,22 , e efeitos da música durante essa fase do desenvolvimento 21,24 .…”

Protagonism of Adolescents in Planning Actions to Prevent Sexual Violence

“…A study carried out in Fortaleza, with male adolescents from 14 to 18 years old, showed the character of songs with misogynist lyrics in affirming the social role of women in satisfying male pleasure and in allowing them to punish those who occupy the outer space. 20 The attitudes and practices developed by an individual are often related to the degree of knowledge about the subject in question. Subsidized an awareness capable of instrumentalizing their attitude and decision-making power, by choosing paths of greater possibility for their achievements and even their collectivity.…”

Cultura do estupro e violência ostentação: uma análise a partir da artefactualidade do funk

“…The eroticism/violence relationship in the funk lyrics requires, therefore, a more thoughtful understanding of its intersectionality with issues of sex/gender, race/ethnicity and class 21 . It is imperative to capture the structural and dynamic consequences of the interaction between two or more subordination axes to understand that this woman is not only the target of gender violence, but also deprived of the social guardianship that would provide her the status of victim 21,22 . In this perspective, it is worth discussing the way in which racism, patriarchalism, class oppression and other inter-secting discriminatory systems create basic inequalities that potentiate the most varied forms of violence 21 .…”

“…The analysis of the funk lyrics also exposes blaming women as part of the artifactual construction process of the perfect victim 22 . In the opening stanza of the funk song Baile de Favela, we can see the verses "She wants to challenge me, I don't understand.…”

“…The hegemonic masculinity model, however, places on men the obligation both to cope with challenges and to demonstrate their virility 24 . At the other end of the spectrum, women are expected to play a passive role 22 .…”