Experiências de abortos provocados em clínicas privadas no Nordeste brasileiro

Abstract

Resumo Baseado numa investigação qualitativa desenvolvida em 2012, o artigo analisa experiências de abortos provocados de pessoas de estratos sociais médios realizados em clínicas privadas. Foram narradas 34 histórias de gravidezes interrompidas em clínicas por 19 mulheres e cinco homens, residentes em duas capitais do Nordeste brasileiro. Uma análise temática revela que existem diferentes tipos de clínicas e de atendimento prestados pelos médicos. O artigo mostra que a realização de um aborto em uma clínica privada não é garantia de um atendimento humanizado e seguro. As narrativas fornecem descrições de diversas situações e práticas, desde aquelas com algumas falhas, como a falta de informações sobre os medicamentos, até outras com abusos graves, como procedimentos realizados sem anestesia. Assim, conclui-se que a ilegalidade da prática do aborto, no Brasil, permite que as clínicas funcionem sem qualquer tipo de regulação do Estado, não impedindo que as mulheres realizem abortos, mas as expondo a situações de total vulnerabilidade e de violação dos direitos humanos.

Aborto inseguro no Brasil: revisão sistemática da produção científica, 2008-2018

“…Despite the reduction in the hospitalization rate, the absolute number of hospitalizations from complications from usanfe abortions is high, estimated at approximately 110,000 in 2012, with costs for the health system 3 . Hypotheses for this high number include unmet contraceptive needs, especially among women with greater social and economic vulnerability 76 ; still limited access to safe methods to terminate pregnancy 77,78,79 , including inadequate use of misoprostoll 80,81,82 ; and local health care practices of hospitalizing women before the abortion is completed. Studies on women's trajectories indicate that they are instructed to go to a hospital as soon as they start bleeding 80,81 .…”

Itinerários de solidão: aborto clandestino de adolescentes de uma favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, Brasil

“…The importance of the type of romantic and/or sexual relationship is highlighted in studies with different social groups 5,9,27 , which show the extent to which not feeling secure in the relationship is determinant for having an abortion. In the case of our study's participants, we assume that the decision to have an abortion without the partner's participation is a result of the fact that it was an "occasional", casual relationship.…”

“…With this background, recent studies reinforce the gaps in the literature on the subject 1,2,4,5,6,7,8 . Thus, the lack of knowledge on how adolescents decide to have an abortion, how they have access to abortive instruments and how they buy and receive abortifacient drugs becomes clear 9 . We also know little about the social inequality indicators associated with abortion, such as class, generation and race 10 .…”

Vulnerabilidade racial e barreiras individuais de mulheres em busca do primeiro atendimento pós-aborto

“…When a woman decides not to continue a pregnancy, the illegality of abortion does not deter it in practice, but merely accentuates the social inequalities. Women who cannot afford to undergo an abortion in private clinics and offices 15 use misoprostol, purchased on the illegal, underground market, and when the bleeding begins, they go to public hospitals to complete the uterine evacuation and treat the complications 16 . A study on abortion itineraries and methods in five Brazilian state capitals described the most common characteristics of women undergoing their first abortion: age 19 years, black, and with children.…”