Durante as visitas que as folias realizam às casas dos devotos, os cantos ocupam lugar central, sendo importantes meios de interação entre os foliões, como são chamados os tocadores e cantadores que integram a equipe ritual, e deles com os moradores e o santo. Neste texto, com o foco etnográfico direcionado para as dimensões formais (como se canta), semânticas (o que se canta) e pragmáticas (o que se faz com o que se canta) do canto, discuto como a presença do santo é ritualmente construída e como se articula com determinadas relações sociais e valores culturais, aproximando e relacionando domínios - céu e terra, esse mundo e o outro, aqui e além, visível e invisível - e seres - vivos e mortos. Para levar a cabo esta análise, o canto será descrito em dois planos: primeiramente, partindo da ideia de que a palavra cantada surge, no contexto da visita de folia, como um "enunciado performativo" no qual "dizer é fazer", veremos como as dimensões poéticas e sonoras caracterizam o canto como um tipo particular de comunicação; em seguida, compreendendo o canto como "um ato de comunicação verbal", direciono o olhar para o texto cantado e para as interações entre foliões, moradores e santo, tal como criadas no contexto de uma visita da folia de São José.
Resumo: O artigo explora as correspondências simbólicas de um personagem de Guimarães Rosa com o universo dos violeiros no vale do São Francisco. O texto chama a atenção para a relatividade e ambivalência de nossas categorias de pensamento, explorando a cultura sertaneja tal como Rosa a constrói na biografia do ex-jagunço Riobaldo e de outros personagens. Sugere-se que o universo sertanejo “é um campo aberto de possibilidades”, servindo como inspiração para vislumbrarmos muitas conexões com o contexto etnográfico. O dilema da existência ou não do diabo, que ocupa as preocupações de Riobaldo, é confrontado com a ambivalência simbólica de um instrumento musical, a viola, associada tanto a Jesus e aos Reis Magos quanto ao mal e ao próprio demônio.
Este artigo aborda o modo como os foliões de reis enfrentaram a pandemia de covid-19 na elaboração e na celebração de seus rituais festivos no período de 2020 a 2022. Partindo do caso das folias de reis do Rio de Janeiro, observamos como esses grupos adaptaram seus rituais e expressaram suas angústias, anseios e devoções através de performances poético políticas. Mostramos como as redes sociais digitais têm desempenhado um papel fundamental na mobilização desses grupos e na produção de sua autoimagem. O texto explora o universo da criação de versos rimados, especialmente por parte de um personagem singular das festividades conhecido como “palhaço”. Através dessas performances vocais, foliões de reis apresentam uma notável crônica da pandemia, veiculando perspectivas políticas, morais e éticas sobre o impacto desse fenômeno em suas vidas cotidianas e rituais, também formulando concepções cosmológicas acerca de saúde e doença, vida e morte.
Resumo A entrevista tem como ponto de partida o conceito de acustemologia desenvolvido por Steven Feld, utilizado como ferramenta para a reflexão sobre as relações e experiências de seus anos formativos. A conversa segue por suas influências, abordagens teóricas e metodologias experimentais utilizadas nos seus múltiplos projetos, demonstrando a complexidade do universo artístico e antropológico de Steven Feld.
O artigo aborda a afinação dos instrumentos musicais no contexto religioso e festivo das folias na Taboquinha, localidade rural pertencente ao município de São Francisco, norte de Minas Gerais. O texto chama a atenção para a dinâmica envolvida no processo de afinação, entendendo o fenômeno como uma prática coletiva realizada na interação entre pessoas por meio de uma economia expressiva e comunicativa, envolvendo gestos, objetos, movimentos corporais, olhares, palavras e sonoridades. Nessa direção, a pergunta que anima este exercício não é tanto qual é a afinação ou o que é afinação, mas: como se afinam os instrumentos? O que acontece quando a prática é realizada? Quais os efeitos produzidos pela afinação? Como a afinação se relaciona com outras situações e momentos do ciclo ritual das folias? O artigo sugere ainda que a afinação, se por um lado cria um enquadramento, um sentido de coletividade e integração; por outro, é permeada de perigos, riscos e incertezas, fazendo dela uma busca constante, um movimento contínuo, um limiar entre tensões, alturas e frequências.
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