Mais de um futurólogo anuncia um "século asiático". Outros analistas salientam, ao contrário, as múltiplas tensões e dificuldades desta parte do mundo. A crise dos países da ASEAN, desde meados de 1997, e a recessão já bastante longa do Japão pareciam confirmar estas visões mais prudentes.Estrelas da modernidade de amanhã ou apenas cometas fugazes no céu do desenvolvimento; paradigmas de liberalismo econômico ou de forte intervencionismo do Estado no desenvolvimento; abertura comercial ou protecionismo disfarçado; autoritarismo político ou democracias sui generis; paraísos da "flexibilidade laboral" ou modelos de progresso industrial com progresso social: eis as perguntas principais sobre os países da Ásia oriental e do sudeste asiático; exigem elementos de resposta diferenciados que ultrapassem ao mesmo tempo a denúncia cega e a admiração acrítica. A China e também a Índia (v. Sukup, 1997), vistas às vezes como possíveis "super-tigres" do futuro, mereceriam uma reflexão à parte. Na América Latina, tão voltada, tradicionalmente, para a Europa e para os Estados Unidos, as experiências da Ásia recebem uma atenção crescente devido às razões seguintes:-o peso cada vez maior (como mercado, fonte financeira e de tecnologia) da Ásia Oriental e, em menor medida, do Sudeste Asiático; -o excepcional dinamismo econômico e industrial desses países nas últimas décadas; -as lições, positivas e negativas, dessas experiências. Mas essas lições têm alguns pontos não muito claros: -Qual é o alcance verdadeiro dos êxitos mencionados, e quais são as suas causas reais? -A que preço conseguiram-se estes êxitos? -Quais são as causas das dificuldades atuais? Rev. Bras. Polít. Int. 40 (2): 27-48 [1997]
Resenhas SARAIVA, José Flávio Sombra (org.). Relações internacionais contemporâneas.Da construção do mundo liberal à globalização (de 1815 a nossos dias). Brasília: Paralelo 15, 1997, 397 p.Essa coleção de nove ensaios, escritos por quatro especialistas qualificados da Universidade de Brasília, cobre quase dois séculos de história universal, desde o Congresso de Viena até os umbrais do século XXI. Redigidos de forma acessível e coerente -não mostram, como os de tantas obras coletivas, diferenças de qualidade ou de enfoque que alteram a coesão do conjunto -, apresentam um quadro sumamente completo e complexo da história da humanidade nestes 180 anos. Cabe destacar que os autores conseguem escapar de maneira notável ao duplo perigo de uma visão euro ou "ocidentalocêntrica" e de uma postura dogmaticamente "terceiro-mundista", combinando a universalidade de diversos enfoques originários do mundo industrializado, europeu em particular, com uma reflexão original a partir de um posto de observação no Brasil. Cada época é analisada com ênfase lógica, e obviamente decrescente, na história européia, mas trata também, de maneira bastante equilibrada e competente, dos países e regiões periféricas, não apenas das potências ascendentes (Estados Unidos, União Soviética e Japão), como também das vastas regiões do que se costuma chamar, ou ainda se denomina, Terceiro Mundo em seus três componentes: América Latina, África e Ásia. Reflete, assim, uma visão universalista que nesta forma seria difícil encontrar fora do Brasil. Não apenas por esta razão, mas igualmente pela qualidade da análise, o estilo ao mesmo tempo científico e compreensível, e o acervo impressionante de dados históricos e estruturais que contém, este livro pode servir com grande utilidade a um público amplo interessado no tema, no Brasil e em qualquer outro país, sem cair por isso, salvo excepcionalmente, em simplificações suscetíveis de serem criticadas por leitores atentos mais especializados.O primeiro capítulo, a cargo do compilador José Flávio Sombra Saraiva, apresenta um panorama interessante do pensamento sobre as relações internacionais, enfatizando em particular a importância da escola francesa de Renouvin e Duroselle. Destaca também as iniciativas latino-americanas neste campo vasto e relativamente novo, em particular no Brasil e na Argentina, assim como publicações e debates recentes sobre o tema. O segundo capítulo, de Amado Luiz Cervo, analisa a "construção do mundo liberal" nas décadas posteriores às guerras napoleônicas. Distingue utilmente entre duas fases: "Na primeira, as potências capitalistas européias impuseram o livre comércio para fora, em um leque que se abriu do tratado anglo-brasileiro de 1810, pela América Latina à
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