O presente trabalho tem como objetivo realizar uma reflexão conceitual sobre o cuidado. Após desenvolver uma revisão da literatura, que se detém especialmente no trabalho de Ayres, defende-se a necessidade de pensar duas grandes maneiras de compreender o cuidado na área da saúde: de um lado, o cuidado constitui um horizonte normativo que orienta as práticas de saúde; de outro, tal como é mostrado com dados etnográficos, cuidado envolve a construção cotidiana de projetos de pessoa que se dá em um marco de relações de poder. O primeiro é um conceito inspirador para a construção de boas práticas de saúde. O conceito aqui proposto nos aproxima do cotidiano, de práticas de cuidado construídas por pessoas nos mais diversos contextos. Ambos os conceitos estão ligados à perspectiva ontológica do Cuidado e são fundamentais para a construção de uma teoria geral sobre o cuidado.
Este trabalho pretende contribuir para a discussão conceitual sobre o cuidado a partir de uma abordagem etnográfica com grávidas e bebês em um bairro popular de Salvador atendido pelo Programa de Saúde da Família. Realizamos entrevistas e observação participante. Com base na análise de duas situações - a descoberta da gravidez com a decisão de levá-la adiante e o aleitamento - comparamos a perspectiva dos profissionais com a dos usuários. Argumentamos que, para ambos, o cuidado envolve a construção permanente de projetos de pessoa. Enquanto os profissionais centram suas intervenções nas mulheres, buscando dar orientações e aplicar rotinas planejadas, os usuários fazem referência a comportamentos espontâneos que respondem a demandas práticas e onde a corporalidade da experiência é central. As diferenças entre profissionais e usuários são relacionadas não apenas com características subjetivas, mas com as posições sociais que ocupam.
Realizamos um estudo etnográfico sobre o cuidado infantil no cotidiano familiar de moradores de um bairro popular de Salvador, visando integrar preocupações da psicologia com a discussão antropológica sobre pessoa. Utilizamos observação participante e entrevistas. Tomando como ponto de partida as reflexões de Ayres, defendemos que o cuidado envolve construção permanente de projetos de pessoa em um marco de relações de poder. Como resultados da pesquisa, identificamos a centralidade do trabalho cotidiano com o corpo para alcançar o objetivo de ter uma criança educada e com a natureza dominada, preocupações que são centrais na construção da pessoa. Defendemos a importância de pensar na construção social da pessoa para fortalecer uma agenda de pesquisa em psicologia que contemple a diversidade cultural.
This paper reports a study of how babies are fed during their first year of life as practiced by families living in a low-income neighborhood of Salvador, Bahia, Brazil and served by the state's Family Health Program. Two families were followed up over a year using the Bick method for the observation of mother-infant relationships. The results showed that although the families appreciated the recommendations of health professionals regarding the need to practice exclusive breastfeeding until the child reached six months, in practice during their first few weeks of life the babies were started on complementary food in addition to breast milk. The mothers made decisions regarding feeding the babies taking into consideration the following: The opinions of a selection of relatives; food availability; ideas about what is suitable for the developing baby; and finally, their observations of the child's responses. The results show that food is part of the mutually imbricated processes of the social construction of the person and the constitution of kinship ties. The conclusion reflects on the implications of these findings for health practices.
Apresentam-se indicadores para avaliação dos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) desenvolvidos como resultado de uma pesquisa participativa, com embasamento teórico hermenêutico, com trabalhadores dos Capsi de uma grande cidade brasileira. Ofertou-se um curso – envolvendo aulas, grupo de apreciação partilhada (GAP), atividades de dispersão e produção de narrativas –, culminando em oficinas de construção de indicadores e de consenso. O exercício interpretativo envolveu a organização das transcrições dos GAPs e sua transformação em narrativas. Várias releituras e reinterpretações constituíram o círculo hermenêutico. Foram pactuados 24 indicadores quantitativos em torno de seis dimensões: acolhimento; projeto terapêutico singular (PTS); brincar e ambiência; articulação com a rede; cuidado às famílias; e processo de trabalho e sofrimento. Os indicadores atendem critérios de qualidade e dialogam com a literatura da área, estando disponíveis para serem utilizados pelos Capsi com eventuais adaptações em função de cada contexto.
RESUMO O presente estudo aborda o modo como profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) compreendem as famílias, o cuidado que deve ser ofertado a elas e a sua expressão em indicadores de avaliação. Realizou-se uma avaliação de quarta geração, com embasamento teórico construtivista, que envolveu: a oferta de um curso de extensão para trabalhadores dos Capsi, a realização de Grupos de Apreciação Partilhada (GAP), com construção e validação de narrativas, culminando em oficinas de produção de consenso. Os participantes reconheceram a necessidade de realizar um registro sistemático de dados sobre as famílias – em aspectos como arranjo e dinâmica familiar, renda, raça/cor e divisão do trabalho –, a ser iniciado desde o momento do acolhimento para subsidiar a construção do Projeto Terapêutico Singular. A necessidade de construir relações mais horizontais e sensíveis às diferenças socioculturais foi considerada um importante desafio. Para caminhar nas direções apontadas, foram pactuados três indicadores quantitativos e um Guia de Boas Práticas. Trata-se de uma produção inédita no recorte da assistência a crianças e adolescentes, que atende a critérios de qualidade e dialoga com a literatura da área, e ainda poderá ser utilizada nos Capsi, com eventuais adaptações de acordo ao contexto.
ARTÍCULO / ARTICLERESUMEN En este trabajo se analiza la construcción cotidiana del parentesco en un barrio de bajos ingresos de Salvador atendido por el Programa de Salud Familiar (PSF). Fueron realizadas entrevistas y observación participante durante tres años de trabajo de campo. Encontramos que el parentesco se construye permanentemente en base a vínculos de "sangre" y de "consideración". Mostramos la comprensión que los informantes tienen sobre sus "casas" y la relación entre la "configuración de las casas" y la construcción de las relaciones de parentesco de hombres y mujeres. Analizamos cómo estas relaciones son producidas en intercambios que involucran también cuidados de salud. Reflexionamos sobre los contrastes entre la propuesta formal del PSF -que establece equivalencia entre casa y familia y enfoca sobre la conyugalidad-y lo que observamos en esta investigación. A partir de eso pensamos sobre los desafíos que la implantación del mencionado programa origina, especialmente para el trabajo de los profesionales de la salud.
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