Este trabalho objetiva analisar a (in)segurança alimentar domiciliar sob o olhar da interseccionalidade. Para isso, foram analisados 14.713 domicílios, utilizando-se um questionário estruturado e a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, além dos dados do estudo transversal Qualidade do Ambiente Urbano de Salvador - QUALISalvador, realizado entre 2018 e 2020 em Salvador, Bahia, Brasil. A variável desfecho foi a situação de segurança alimentar (insegurança alimentar leve, moderada ou grave) e a variável exposição de interesse foi o cruzamento de raça/cor e sexo autodeclarado (homem branco, mulher branca, homem negro, mulher negra). Modelos de regressão logística multinominal foram usados para estimar a associação entre a exposição de interesse e o desfecho, ajustada a partir de questões socioeconômicas estratificadas segundo escolaridade e renda familiar per capita. Diante disso, concluiu-se que domicílios chefiados por mulheres negras apresentaram maior chance de insegurança alimentar leve (OR = 1,39; IC95%: 1,15-1,68; p = 0,001) e moderada ou grave (OR = 1,94; IC95%: 1,49-2,52; p < 0,001) em relação aos domicílios chefiados por homens brancos, além de maior chance de insegurança alimentar moderada ou grave em todos os níveis de escolaridade e nas faixas de até 1/2 salário mínimo e > 1 salário mínimo. Quando os responsáveis foram homens negros, a maior chance se apresentou na faixa > 1 salário mínimo. A insegurança alimentar nos domicílios chefiados por mulheres negras, mesmo em condições socioeconomicamente favoráveis, revela-se como uma das consequências da interação estrutural do racismo e do sexismo.
Resumo O Fome Zero e as políticas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) fizeram do Brasil uma referência internacional em tecnologias sociais de promoção do acesso à alimentação. Este artigo analisa percepções de líderes comunitários e/ou moradores de um bairro popular de Salvador sobre a atuação do Estado em SAN. A metodologia aliou mapas conceituais e grupo focal aplicados em dois momentos (2014 e 2016, respectivamente) de uma pesquisa-ação. Foi evidenciado, em ambos os momentos, o distanciamento dos atores locais em relação aos programas de SAN. No início da pesquisa-ação, as percepções sobre a SAN reforçavam a responsabilização dos indivíduos, indicando o desconhecimento da alimentação enquanto direito. No segundo momento, as narrativas do grupo focal criticaram duramente o Estado por não cumprir com a sua obrigação nesse campo. No discurso dos participantes, fome e insegurança alimentar e nutricional são expressões e instrumentos de sistemas de opressão historicamente construídos - racial, patriarcal e de classe. A discussão sobre os interesses defendidos pelo Estado traz à tona a questão da democracia e da representatividade. A desconfiança nas políticas sociais e de SAN constitui um problema crucial a ser explorado, em um cenário atual de desmantelamento das políticas e de retrocessos democráticos.
O objetivo deste estudo foi apresentar a prevalência da insegurança alimentar domiciliar em diferentes territórios da cidade de Salvador, Bahia, Brasil, e analisar fatores demográficos e socioambientais a ela associados. Os dados utilizados são de uma pesquisa maior denominada Qualidade do Ambiente Urbano de Salvador - QUALISalvador, realizada entre 2018 e 2020 em Salvador. A insegurança alimentar foi avaliada por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Foram analisados 15.171 domicílios. Modelos de regressão logística multinominal foram utilizados para analisar a associação de variáveis demográficas e socioambientais com insegurança alimentar leve (IAL) e moderada ou grave (IAMG), para Salvador e macrozonas. Salvador apresentou 40,96% de insegurança alimentar. Nas macrozonas, as prevalências se diferenciaram: Orla Atlântica (25,8%), Área Urbana Consolidada (33%), Subúrbio (45,7%) e Miolo (47,9%). Todos os fatores analisados apresentaram associação com IAL e/ou IAMG no modelo para Salvador, entre eles estão o responsável pelo domicílio ter escolaridade ≤ 4 anos (IAL: OR = 2,00; IC95%: 1.61-2,47/IAMG: OR = 4,94; IC95%: 3,83-6,35), renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo (IAL: OR = 2,62; IC95%: 2,37-2,93/IAMG: OR = 4,03; IC95%: 3,53-4,60), percepção sobre a qualidade do ambiente urbano como ruim (IAL: OR = 1,57; IC95%: 1,36-1,81/IAMG: OR = 2,03; IC95%: 1,73-2,38), com maior prevalência de insegurança alimentar em cenários de pior situação sociodemográfica. Na macrozona Miolo todos os fatores também se mantiveram associados à insegurança alimentar. Assim, os fatores de vulnerabilidade social estão associados à insegurança alimentar na capital e macrozonas, mas apresentam-se de formas especificas segundo características de cada território.
Introdução: A pandemia da Covid-19 possibilitou o agravamento da situação de insegurança alimentar e nutricional (IA) na população. Objetivo: Analisar as principais estratégias institucionais de enfrentamento da IA no contexto da pandemia da Covid-19 em municípios baianos. Métodos: Trata-se de estudo ecológico realizado no período de março a maio de 2020 em 44 municípios da Bahia. As informações foram coletadas por meio de consultas aos Diários Oficiais (DO) dos municípios, com levantamento das estratégias adotadas para o enfrentamento da IA. As estratégias identificadas foram classificadas nas dimensões: renda e condições de vida; saúde, nutrição e acesso aos serviços de saúde; produção e disponibilidade de alimentos; acesso à alimentação adequada e saudável e educação. Resultados: As principais estratégias de enfrentamento da IA adotadas foram da dimensão “renda e condições de vida” – com a oferta de incentivos fiscais (45,5%); a dimensão “acesso à alimentação adequada e saudável” – com estratégias de distribuição de alimentos ou cartão alimentação para alunos matriculados nas escolas (38,6%) e distribuição de cesta básica (34,1%). Conclusão: Este estudo revelou baixa cobertura das estratégias adotadas pelos executivos municipais baianos para enfrentamento da IA durante a pandemia da Covid-19. O estudo evidencia a necessidade de maior proteção social por meio de ações governamentais. É primordial que medidas intersetoriais de curto, médio e longo prazos sejam tomadas para atender, especialmente, às populações mais vulnerabilizadas, no intuito de mitigar os impactos sociais e econômicos durante e após a pandemia.
As Conferências Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN) integraram um conjunto de instituições participativas no Brasil e nos últimos anos tinham o intuito de estabelecer as prioridades da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) e do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN). Objetivou-se apresentar um panorama das CNSAN realizadas no Brasil a partir de variáveis selecionadas referentes aos temas, objetivos, formas de organização, normas para deliberação, potencial inclusivo e outputs do processo conferencial. Trata-se de um estudo exploratório com análise documental que utilizou como unidade de análise os atos convocatórios, regimentos e relatórios das CNSAN. Categorizou-se os dados partir de cinco grupos: G1 – Caracterização das conferências; G2 – Forma de organização; G3 – Normas para deliberação; G4N – Potencial inclusivo e G5 – Outputs do processo de conferência. Principais resultados: A maioria das CNSAN objetivou a proposição de políticas públicas. Todas as CNSAN foram organizadas a partir da realização de grupos de trabalhos e plenárias favorecendo a participação-deliberação. Um sistema de cotas foi estabelecido a partir da III CNSAN, ampliando a participação de povos e comunidades tradicionais. Observou-se também que as conferências mobilizaram um grande número de participantes e de municípios envolvidos.
O distanciamento social adotado para controle da COVID-19 obrigou Instituições de Ensino Superior (IES) a aderirem a novas estratégias para realização das atividades acadêmicas e muitas pesquisas passaram a ser realizadas em ambientes virtuais. O objetivo deste artigo é descrever os aspectos metodológicos e principais desafios enfrentados para a execução do projeto COCASa, um estudo de coorte on-line sobre comportamento alimentar e saúde mental de docentes e discentes de IES do Brasil. O estudo foi iniciado em julho de 2020 e acompanhará os participantes por dois anos. Adotou-se amostragem não probabilística estratificada proporcional com a utilização de escalas, de inquérito alimentar e de questões estruturadas elaboradas pela equipe do projeto. Entre os participantes do baseline, 4.074 discentes e 2.210 docentes iniciaram o questionário e, respectivamente, 76,8% e 85,1% finalizaram o preenchimento. Em ambos os grupos, a maior participação foi de mulheres (docentes: 66,7% e discentes: 76,2%) e residentes nas regiões Nordeste (docentes: 37% e discentes: 50,9%) e Sul (docentes: 27,1% e discentes: 22,5%) do Brasil. A pesquisa on-line amplia a possibilidade de recrutamento de participantes e alcança limites territoriais com menor demanda por financiamento. Durante a pandemia da COVID-19, o uso do ambiente virtual tornou-se uma estratégia viável e acessível para a manutenção das atividades de pesquisa, configurando-se como uma provável tendência a ser adotada pela comunidade científica.
O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN, instituído em 2006, pressupõe a realização de conferências públicas em todas as esferas de governo. O estado da Bahia realizou cinco edições de Conferências de Segurança Alimentar e Nutricional (CSAN). O estudo objetivou caracterizar a dinâmica participativa de três edições das CSAN e as proposições emanadas a cada edição. Trata-se de estudo documental, que analisou os relatórios disponíveis das 3ª, 4ª e 5ª edições das CSAN realizadas nas etapas municipais, regionais, territoriais e estadual nos anos de 2007, 2011 e 2015, respectivamente. As proposições foram classificadas pelas dimensões da SAN (disponibilidade, acesso, consumo e utilização biológica de alimentos) e a dimensão transversal. Os resultados demonstraram: variação na dinâmica participativa dos municípios e territórios de uma edição para outra, com a 5ª edição, de 2015, registrando maior quantidade de municípios e 100% de participação dos territórios, sendo a mais propositiva das edições estudadas; todas as dimensões de SAN foram debatidas e contempladas nas três edições das CSAN; a 3ª edição realizada em 2007 foi a menos propositiva; a dimensão disponibilidade de alimentos obteve o maior número de proposições do total das três edições, seguida da dimensão consumo de alimentos. Conclui-se que as conferências geraram proposições relevantes para a formulação de políticas de interesse para a SAN na Bahia.
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